Tina

Era uma moça doce e vaidosa, bastava olhar com atenção para perceber a combinação de cores entre seus acessórios. Apesar da timidez, não se deixava enganar com o jeito meigo. Sempre fora inteligente, mesmo sem estudos, afinal não havia outra maneira de definir suas mãos habilidosas e precisas, sem contar os olhos ágeis, capazes de formular um exame completo em poucos minutos. Depois, seus lábios faziam questão de reproduzir todo o relatório que, quase sempre, terminava com uma risada áspera, que mais parecia um engasgo. Tina podia ser tão transparente que bastava arquear uma sobrancelha para que eu decifrasse o que se passava em sua mente. Era uma ótima contadora de histórias, daquelas que faz questão de se demorar em cada detalhe, mas eu sempre ficava com a sensação de que ela ainda não me revelara algo sobre a sua própria. Talvez fosse o fato de seus pés balançarem impacientemente toda vez que precisava responder uma pergunta. Dizia que tinha um bom coração, apesar de sua boca. A verdade é que, desde que chegara aos oitenta, desistira de agradar qualquer um e não demorava nada para começar a emitir seus comentários ácidos em meio a uma conversa casual.

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