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2022: o ano da ressaca

Toda vez que o final de ano se aproxima, eu começo a ficar reflexiva. Tenho o hábito de fazer uma retrospectiva em dezembro. Funciona assim: todos os dias do mês eu escrevo sobre um evento que marcou o meu ano. Assim, tenho a chance de entrar em contato novamente com pelo menos 31 coisas que aconteceram ao longo dos últimos meses.

Não tem regra, vale falar sobre qualquer tema – por maior ou menor que seja – desde que tenha me marcado de alguma forma. Esse pequeno ritual de escrita me estimula a pensar sobre como os eventos se conectam e como uma área da vida influencia nas demais.

Desde o início da pandemia, vivemos anos desafiadores e sem precedentes. Sinto que em 2020 fomos pegos de surpresa, literalmente obrigados a ficar em casa. Isso aproximou algumas relações e afastou outras… também tivemos muito tempo para lidar com nossas sombras. Por aqui foi intenso!

Foi no final desse ano que eu quebrei o pé direito e me vi obrigada a ficar mais de um mês no sofá. Agitada como sou, tinha tudo para ser uma tortura. Mas não foi! Foi a pausa necessária para que eu estudasse e finalmente tomasse coragem de dar um salto – figurativamente, já que a bota ortopédica não me permitia mais do que alguns passos. Fiz minha transição de carreira e comecei a trabalhar como escritora e produtora de conteúdo.

Em 2021, aprendemos a nos cuidar, cuidar dos nossos e viver a vida em outro ritmo, mais lento, como a saúde e a economia nos permitiam. Por aqui foi um ano de faxina e reorganização! Refiz minhas bases, reencontrei uma amiga querida e montamos juntas a LAB, nossa empresa de estratégia & conteúdos. 

A chegada de 2022 veio com a sensação de um retorno à normalidade. Mas, à essa altura, o que é normal? Os anos anteriores foram mais introspectivos e reclusos e agora vivemos uma ressaca de tudo o que aconteceu – dentro e fora de nós.  

Podemos sair às ruas novamente, mas agora carregamos as marcas de um trauma coletivo. Ainda me parece difícil dar conta da vida privada e, de repente, estamos de volta à esfera pública. E se você se sente desorientado, nem pense em olhar para os lados: todos vivem sua própria versão do caos.

Estamos tentando nos encontrar de novo, pois, mesmo trancados dentro de casa, nos perdemos. Depois de tanto tempo, é preciso descobrir o que o se manteve e o que mudou. E aqui vale tudo: lojas do bairro que fecharam, empregos que mudaram, amigos que hoje mais parecem estranhos.

Aquele alívio que eu pensava que sentiria na volta ao presencial nunca chegou. Alguns dos avanços tecnológicos nos atropelaram de forma irreversível, e o que parecia provisório veio para ficar. Veja bem, longe de mim reclamar do home office, mas sinto falta de caminhar na rua, passar na padaria na volta para casa, almoçar com colegas e ter um pouco de distração entre reuniões. Opa, reunião não, agora a gente chama de “meeting”. 

As coisas foram sendo retomadas aos poucos: passeios, eventos, festas e viagens. E eu comecei a me perguntar se isso significava que a gente já podia se ver. Mas eu não conseguia marcar um encontro com meus amigos! Havia tantos ruídos em nossa comunicação, era como se eles não me conhecessem mais. Tampouco eu os conhecia, percebi angustiada, afinal, os dois últimos anos passaram para todos.

Sofri muito com todo esse estranhamento, mas, aos poucos, fiz o que faço de melhor: me reorganizei. Entendi que algumas coisas deixaram de fazer sentido e que eu precisava deixá-las para trás. Não havia motivos para carregar tantos pesos! Encerrei ciclos importantes e termino o ano com alguns pendurados, sem saber ainda o que fazer com eles.

É preciso muita coragem para sair de um lugar que antes era tão confortável, mas, ao mesmo tempo, onde não couber, não te demores. Afinal, não deveria ser difícil me relacionar com pessoas tão próximas, deveria?

Eu mudei tanto nos últimos meses! Perdi peso, comecei a praticar Yoga e estou prestes a me casar, mas absolutamente nada aconteceu como eu esperava. Esse tem sido um período intenso de autodescoberta, e tenho muito orgulho dessa Tati que está sentada aqui hoje colocando seus sentimentos no papel. Apesar de tudo, posso afirmar com segurança que eu não a trocaria por nada no mundo, nem pela volta daquele antigo conforto da vida pré-pandemia.

Talvez você, assim como eu, esteja terminando esse ano com a sensação de que nada saiu conforme o planejado, mas que, ainda assim, viveu um montão de coisas. E eu não faço ideia do que está por vir, só sei que 2022 vai embora com um suspiro pesado, daqueles que faz cair os ombros, mas que alivia os pulmões.

Publicado originalmente em: Medium.

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Tempo

Quanto tempo cabe em dois anos? 

Faz pouco mais de dois anos que nos confinamos em nossas casas para nos protegermos da pandemia. E, falando por mim, até hoje ainda passo muito tempo olhando para as paredes da minha sala. Os jornais e comerciais alegam que a vida voltou ao normal, o “novo normal” – como gostam de chamar – , mas os números de casos nos contam outra história: a pandemia ainda está aí.

Para além do risco da contaminação, o que anda me afligindo é a quantidade de tempo que se passou desde março de 2020. 

Eu adotei um cachorro, comecei uma nova carreira e devo ter mudado toda a minha rotina pelo menos umas três vezes. 

As coisas foram acontecendo dentro de nossas casas, afinal, as demandas não pararam. Mantivemos contato pessoal com algumas poucas pessoas e estendemos nossas relações para as telas de nossos computadores e celulares. Nos alimentamos de cursos à distância e lives até enjoarmos. 

E assim, o tempo foi passando. Ainda que de uma forma estranha e inesperada, dois anos se passaram na minha vida. E, da mesma forma, esse mesmo tempo se passou na vida dos meus conhecidos. 

Agora que estamos retomando os encontros presenciais, tenho me deparado com alguns desafios: minha família já não é mais a mesma, eu perdi a amizade de alguém que antes me era querido, me afastei de algumas pessoas e me (re) aproximei de outras. 

O fato é que todos nós mudamos. A retomada não se dá do mesmo ponto em que as coisas foram interrompidas. Voltar ao mundo presencial parece como acordar depois de uma longa noite de sono, o mundo gira lá fora, mas eu não consigo acompanhá-lo. 

Algumas convenções sociais mudaram, não sei se devo chamar meus amigos para sair ou não. Será que irei expô-los ao vírus? Será que ainda somos amigos? Será que devo tirar férias e comemorar mesmo sabendo que tantas pessoas estão tristes com suas perdas? E quanto às minhas perdas, o que devo fazer com elas?

Sentei para escrever esse texto e parece que me perdi em meus próprios pensamentos. Isso tem acontecido com alguma frequência… Ultimamente as palavras me escapam. 

Eu queria sair para o mundo de novo, mas, por enquanto, a janela é o limite.

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Coisa boa do dia

Não sei se também acontece com você, mas eu fico muito introspectiva na virada do ano. Como contei recentemente, todos os anos, ao longo do mês de dezembro, faço uma retrospectiva dos acontecimentos que mais marcaram o meu ano: podem ser coisas positivas ou negativas; grandes ou pequenas. A ideia é ter uma oportunidade de olhar para o ano como um todo, ou como um ciclo, como costumamos chamar.

Isso me ajuda a perceber o quanto mudei e como venho lidando com esses eventos. Sinto que começo o novo ano mais consciente do meu momento: atenta a como estão as diversas áreas da minha vida, com o que estou satisfeita e quais devem ser os pontos de melhoria para o novo ciclo que se inicia.            

Outra coisa que sempre me ajudou muito é tentar ver o lado positivo das coisas. Eu, particularmente, encontrei um pequeno ritual que tem funcionado pelos últimos oito anos (este será o nono 😊). É o que vou te ensinar a fazer hoje, pois é uma boa forma de começar o ano e, assim, você pode se exercitar e levar essa postura com você ao longo dos próximos meses – ou anos, espero.

Você já parou para notar que, quando nos tornamos mais conscientes sobre alguma coisa, começamos a prestar mais atenção e isso se torna mais recorrente? Parece que quando nos concentramos em um tema, ele começa a aparecer cada vez mais em nossas vidas.

A neurociência chama esse fenômeno de S.A.R., ou Sistema Ativador Reticular. Esse sistema fica em nosso cérebro, e é o grande responsável por filtrar as informações que estamos recebendo o tempo todo. Ele funciona como um filtro, levando para a consciência tudo aquilo que for relevante. É assim que conseguimos nos focar nas coisas que são realmente importantes.

Algumas pessoas chamam isso de mentalização ou de energia. Seja qual for o nome que você quiser dar, a ideia é a seguinte: você deve se focar naquilo que acontece de bom no seu dia.

Simples assim. Ao invés de nos focarmos nos problemas, como geralmente fazemos, podemos treinar nosso olhar para perceber as coisas boas que acontecem em nossa rotina. Repare que eu nem estou falando em grandes acontecimentos, me refiro aos detalhes mesmo: qualquer coisa que melhore o seu dia ou te deixe com a sensação de que aquele dia valeu a pena.

Com esse novo foco, você aprenderá a praticar a gratidão, ou seja, será grato às pequenas coisas que tornam a sua rotina mais agradável. É comprovado que pessoas gratas são mais felizes e tendem a ser mais saudáveis, uma vez que o sentimento de gratidão é um ótimo combatente ao estresse e sintomas dele derivados.

Mas, em meio à correria do dia a dia, pode ser difícil se lembrar de fazer isso, não é mesmo? Eu concordo. Por isso, criei um sistema estruturado e que funciona para mim. Eu peguei uma caixa e coloquei um bloco de papel e uma caneta dentro. Todas as noites, antes de dormir, eu anoto em uma pequena folha algo que aconteceu de bom no meu dia.

Anotar me ajuda a pensar. Paro uns minutinhos para fazer esse ritual e, assim, repasso o dia todo em minha mente e localizo as pequenas alegrias e prazeres pelos quais sou grata.

Pode ser qualquer coisa mesmo. Tem dias em que é mais fácil, ou tenho mais de uma coisa boa pela qual agradecer, como encontrar um amigo, almoçar minha comida favorita, sair com meu namorado, conhecer um lugar novo ou viajar. Mas, na maioria das vezes, é algo bastante simples e cotidiano, como: tomar um banho quente após um dia longo, deitar no sofá com a minha cachorrinha, saber que quando eu chegar em casa poderei conversar com alguém sobre o dia difícil que tive no trabalho ou ler no caminho para um compromisso.

Alguns dias são horríveis, eu sei! Mas, mesmo neles, podemos tentar. Para mim, o pior dia até hoje foi em 2014, quando perdi meu cãozinho, o Max. Naquele dia, fiquei encarando a folha em branco, com raiva. Mas então pensei em como foi bom poder me despedir dele, ainda que por alguns minutos, no hospital veterinário. Foi isso que anotei: “Pude me despedir do Max e sei que agora ele está descansando, suas dores terminaram”.

Eu continuei triste depois de anotar, e esse continua sendo um dos piores dias da minha vida até hoje, mas sou muito grata por saber que eu fiz tudo o que podia por ele.

Depois de algum tempo anotando, percebi como foi ficando mais fácil, como ao longo dia penso “isso foi bom!” ou “já sei o que anotarei hoje”. Depois de um pouco de treino, as mudanças são perceptíveis – não só na criação do hábito, mas em seu humor e emoções. Você aprende a reparar no que te faz bem e isso te permite repetir aquilo mais e mais vezes.

Esse hábito funciona também como uma espécie de reserva emocional para que, mesmo em momentos de crise, você consiga se lembrar daquilo que te ajuda a se sentir melhor.

            Resumidamente, meu lema é:

“nem todo dia é bom, mas todo dia tem algo de bom”.

Eu espero que esse exercício te ajude tanto quanto eu sinto que me ajuda, diariamente. E, por favor, me conte se você experimentar, quem sabe nossa conversa não se torna a minha coisa boa daquele dia? 😉

Publicado originalmente em: Medium.

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Retrospectiva

Por aqui, eu já entrei em clima de final de ano!

Veja bem, não estou falando de preguiça ou cansaço; nem de happy hours ou confraternizações. É claro que tudo isso faz parte, não me leve a mal. Mas estou falando do clima de encerramento de ciclos que o fim do ano provoca em mim. Tudo, desde o último encontro com os amigos, a última confraternização com a equipe de trabalho, até a última – e dolorosa – sessão de terapia do ano.

Todos os anos, sinto que faço um “balanço geral”, lembrando de tudo o que aconteceu e marcou a trajetória daquele ano em especial. Até que certa vez resolvi formalizar: fiz uma lista com 31 eventos que aconteceram no decorrer do ano e escrevi um parágrafo sobre cada um deles, do dia 01 a 31 de dezembro. A experiência foi tão marcante que resolvi repetir, e é o que venho fazendo desde então.

Os itens variam tanto quanto os acontecimentos do ano, e abrangem todas as áreas que tiveram importância nos últimos meses: vida afetiva, trabalho, saúde, família, amizades ou qualquer outra.

Fazer esta lista me ajuda a visualizar melhor minhas realizações, além de contribuir muito com minha memória temporal. Anotando, fica mais fácil retornar àquilo no futuro. É curioso perceber como algumas questões evoluem, enquanto outras são temas recorrentes.

Escrever sobre cada um destes eventos é uma chance de me reencontrar, olhar para o passado – recente ou não – com um novo olhar, e assim posso ressignificar como os acontecimentos me tocaram.

A escrita sempre teve um quê de ritual em minha vida. Me ajuda a pensar melhor, a enxergar fatos, sentimentos e, consequentemente, a tomar decisões mais assertivas. Escrever me possibilita guardar minhas memórias no papel, assim elas não precisam ocupar tanto espaço entre meus pensamentos, o que me ajuda a controlar a ansiedade.

Dá realmente a sensação de encerrar um ciclo e me preparar para o começo de outro. Assim, durante todo o mês de dezembro, faço um balanço da minha vida e me preparo para o que está por vir.

No fim, ao narrar minhas histórias, falo sobre mim. Consigo perceber a ligação entre alguns pontos, como uma decisão acabou por influenciar outras, como me comportei de maneira semelhante em diferentes áreas ou em relação a diferentes pessoas.

Isso também me ajuda a começar a pensar em metas para o próximo ano, que podem ser uma continuidade dos meus feitos ou algo completamente novo. O fato é que esse olhar para minha história me ajuda a pensar em quais os próximos passos que desejo dar.

E não pense que é difícil encontrar trinta e um acontecimentos não, viu?

A ideia é justamente escolher uma grande variedade de temas, para que você perceba com mais clareza todas as dimensões de sua vida. Pode ser desde uma mudança de emprego, até uma nova amizade, uma viagem, uma data ou evento em particular, um hobbie recém descoberto ou aquela receita que você finalmente experimentou fazer.

O principal objetivo é que você aprenda a perceber as pequenas coisas que compõe sua rotina e assim consiga visualizar como seu ano vai se desenrolando. E, não deixa de ser também um exercício para praticar a gratidão, enxergando os pequenos detalhes e as coisas boas que nos acontecem e que devemos aprender a valorizar.

Espero que você goste da ideia e que essa sugestão te inspire a criar sua própria versão de retrospectiva pessoal.

Não há regras, apenas a sugestão de que você pare um pouco e preste atenção em sua própria história.

Este ano, escrevo minha retrospectiva pela décima vez. Isso significa que tenho um caderno repleto com trechos de minha própria história (sou das antigas, adoro escrever no papel – mas faça como você preferir). Às vezes releio um trechinho ou outro e me pergunto se foi a mesma pessoa que escreveu todas aquelas palavras. Meu traço mudou, meus sentimentos mudaram e minha vida… Ah! Essa definitivamente mudou.

Nos vemos no próximo ano. Um abraço 🙂

Publicado originalmente em: Medium.

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Ativação Reticular

Talvez você já tenha ouvido falar em “Sistema Ativador Reticular”, ou S.A.R., para os íntimos. Esse sistema fica em nosso cérebro, sendo o responsável pela filtragem de toda informação que processamos. Já que não damos conta de absorver toda a informação e estímulos que estão à nossa volta, o S.A.R. funciona como um filtro, deixando entrar somente a informação que é relevante. Isso é o que nos permite focar nas coisas importantes.

Vou dar um exemplo prático: na semana anterior, em meio a uma reunião, conversei sobre Inteligência Emocional, um conceito tão em alta. No mesmo dia, reparei que tinha um livro com o mesmo título em minha estante. Claro, fora lido na época da faculdade, mas, apesar de olhar para a estante todos os dias, já havia me esquecido que ele estava ali. Logo naquele momento, reparei em sua presença. Que coincidência!

Depois disso, me deparei com o conceito de Inteligência Emocional em uma palestra sobre a importância do autoconhecimento para modificar comportamentos. Em seguida, uma ex-colega de escola postou em suas redes sociais que estava fazendo um curso online sobre o tema. Eu, graças à minha ativação reticular, fui atrás do tal curso.

A partir do momento que esse virou um tema para mim, ele passou a aparecer como mágica em minha tela e caixas de entrada. O termo “Propósito” foi outro que não tardou em transbordar por aí, chamando a minha atenção.

Tudo isso vem de encontro com meu atual momento emocional, estou extremamente tocada pelo tema do autoconhecimento. Venho a cada dia me convencendo de que talvez esse seja o caminho para me reencontrar.

Depois de tanto tempo trabalhando, me vi com medo de mudar, de explorar uma nova área e encerrar um caminho que venho percorrendo até então. E, principalmente, medo de colocar energia e expectativas em algo que talvez não dê resultados.

A verdade é que não sei o que quero, mas, pela primeira vez em muito tempo, me permiti explorar. Estou conhecendo uma nova área, entrando em contato, graças aos muitos e-books gratuitos sobre o tema e todo o conteúdo disponível na internet. Ainda tímida e muito receosa, comecei a estudar e pesquisar sobre novos assuntos. Mas, mais importante do que ser autodidata, é ter coragem de arriscar, não me contentar apenas em ser aluna, consumindo conteúdo de forma passiva, como um espectador assistindo a um jogo. Preciso conseguir entrar no meio do campo, para descobrir se há lugar para mim. É preciso enfrentar a folha em branco e começar a rascunhar. Afinal, sempre pode-se editar um rascunho, lapidar, aperfeiçoar. Enquanto o vazio continuará sendo o mesmo no fim do dia: nada.

Estou tentando me manter focada nisso, organizei um cronograma de estudos, pretendo praticar e acredito que só assim, entrando em contato com a área, é que posso desmistificar o processo de transição de carreira.

Publicado originalmente em: Medium.

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Morada

Habitar é permanecer por determinado período. É ter lugar para ficar e se sentir em casa. Dentre todas as casas que já tive, a que melhor me acolheu foi o meu corpo.

Meu corpo é minha morada, é nele que vivo; é nele que sou. Nunca consegui ser fora dele, carrego-o em todas as minhas andanças e é sempre ele quem dita o ritmo.

Uso o corpo como forma de expressão, a linguagem não verbal grita por entre meus poros. A cor do cabelo, as roupas que escolho vestir, minha – péssima – postura, tudo! É preciso me sentir confortável nele, já que, até onde sei, somos inseparáveis. O conjunto do que sou comunica aos outros uma infinidade de coisas sobre mim. É dentro e a partir do corpo que desempenho os diferentes papéis sociais que carrego.

Nem sempre a relação entre o mundo interno e externo é clara. Tem dias em que me sinto poderosa, munida de toda minha razão, ferramentas e equipamentos tecnológicos, achando que posso dar conta de tudo. Basta uma noite mal dormida ou dor de cabeça e até os planos mais sólidos vão abaixo.

É preciso encarar os fatos: sou dentro dos limites de meu organismo. A saúde física e emocional é fundamental para qualquer atividade e, nesse tempo em que estou confinada dentro de casa, briguei e fiz as pazes comigo uma infinidade de vezes.

Já tentei criar rotinas de exercícios algumas vezes, faço funcionar por algum tempo e depois me perco; uso um aplicativo que dispara lembretes para que eu beba mais água e, por causa disso, não paro de fazer xixi; investi em autocuidado, por ver nos rituais uma das poucas formas que tenho para me cuidar no pequeno espaço de minha casa; adotei uma rotina de skincare e hoje sou tarada por uma máscara facial.

Cuido da pele, do corpo, da casa, da alma. Acredito que me cuidar é um ato de amor próprio. Fazer um chá no fim do dia para embarcar em uma leitura é mais do que uma tentativa desesperada de calar a ansiedade que me assombra o dia inteiro; é uma forma de ter um encontro comigo, de apreciar minha própria companhia, e acalmar o coração e a mente para conseguir pegar no sono.

Aprendi a me dar pausas, relaxar e, se for preciso, dizer um sonoro “não” a demandas externas, porque eu necessito de limites. Preciso usar parte do meu tempo comigo mesma, ou não farei nada direito no dia seguinte.

Nas últimas duas semanas, vivi uma dor de garganta que preocupou mais do que deveria, desestabilizou minha saúde física, destruiu o fiapo de sanidade que me restava e trouxe uma carga externa de ansiedade de todos aqueles que me querem bem.  

Em meio à correria da rotina, tratei os sintomas e descansei. Pequenas pausas entre uma reunião e outra salvaram meus dias. Sei que minha produtividade caiu significativamente e que devo textos a muita gente, mas silenciei o que gritava fora e me reconectei comigo. Precisamos nos entender primeiro, meu corpo e eu, para que então eu pudesse melhorar.

Eu não disse que é o corpo quem dita o ritmo? É ele quem faz as regras, e não eu. Mas, como somos um só, seguimos juntos. Hoje acordamos bem.