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Vale a pena participar de concursos literários?

Quando comecei a escrever, criei um blog para compartilhar minhas ideias, pensamentos e sentimentos com o mundo – ou com quem estivesse interessado em ler. E tenho um carinho enorme pelo público e amigos que conquistei aqui! Aos poucos, fui entrando também nas redes sociais, onde conheci outros leitores e colegas escritores. 

Toda essa jornada fortaleceu meus passos no caminho da escrita. Ainda assim, demorei para começar a pensar seriamente em publicação. A verdade é que o início pode ser bastante assustador para quem está começando a escrever.

Parece impossível entrar no mercado editorial tradicional! Mas a boa notícia é que, hoje em dia, existem diferentes opções para quem deseja publicar seus escritos – e isso ajuda o autor a ter mais alternativas na hora de publicar e começar sua carreira como escritor.

Além dos blogs e redes sociais, o autor pode optar pela autopublicação em plataformas como o Kindle, da Amazon. Eu tive uma maravilhosa experiência por lá, e o resultado você pode conferir aqui

Outra opção para quem quer aumentar o alcance de seus textos são as revistas digitais e antologias de contos organizadas por algumas editoras.. Esses projetos costumam ser bem estruturados e contam com uma equipe de profissionais que trabalha o texto e realiza a curadoria do conteúdo, compondo uma coletânea que é divulgada –  de forma gratuita ou paga –  em seus canais. 

Em geral, para participar de uma publicação, o autor precisa se inscrever em um concurso literário. Mas será que vale a pena participar desses eventos? É o que veremos a seguir!

O que é um concurso literário

Cada concurso tem suas particularidades, mas, de maneira geral, trata-se de um concurso que escritores se inscrevem para participar de um processo de seleção. Pode ter um tema específico ou não, por isso é importante que, antes de se inscrever, você se atente às regras do edital proposto.

Depois que a inscrição é realizada, o texto é lido e avaliado segundo os critérios do concurso. Os autores selecionados ganham um prêmio, que pode ir da publicação de seu texto até medalhas, menções honrosas ou prêmios em dinheiro.

Na minha experiência, posso afirmar que os concursos são uma ótima oportunidade para quem está começando na carreira de escritor e não sabe como entrar no meio editorial. 

Além de participar de projetos de incentivo à cultura, o autor iniciante tem a oportunidade de acompanhar de perto como os processos de publicação acontecem!

Mas vale a pena participar de concursos literários? 

Em geral, sim! É claro que é importante ler todas as regras do edital e conferir o que é solicitado na inscrição. A maioria dos concursos que vejo por aí são gratuitos, e por isso fica a dica de sempre desconfiar de taxas de inscrição 👀. Pesquise sobre a reputação da instituição antes de pagar qualquer valor ou assinar um contrato e, não tome nenhuma decisão se ainda estiver com dúvidas. 

Com os devidos cuidados, os concursos literários podem trazer muitas vantagens para quem participa deles. A seguir, listei 6 bons motivos para acompanhar editais e se inscrever em concursos. Confira!

  1. Validação: ser selecionado é uma forma de reconhecimento pelo seu texto. Saber que alguém gostou do seu trabalho e receber um convite para fazer parte de uma publicação desperta uma sensação muito boa em qualquer autor. Além disso, ver seu texto trabalhado dentro de uma obra – seja ela física ou digital – dá outra dimensão à sua escrita. Digo por experiência própria que é uma recompensa muito prazerosa; 
  2. Alcance: ter um texto publicado por uma revista ou editora é uma ótima chance de “furar sua bolha” e expandir seu público leitor. Por mais que você publique em seu blog pessoal ou nas redes sociais, o fato é que uma publicação formal que reúne mais autores terá um alcance maior e, assim, mais pessoas poderão entrar em contato com a sua obra; 
  3. Revisão: num mundo ideal, todos os textos são publicados sem erros gramaticais e em sua melhor versão. A realidade, porém, não é bem assim… Em geral, quando publicamos um texto por conta própria, corremos o risco de deixar passar pequenos erros de digitação, ortografia, ou até mesmo falhas de estrutura. Antes de ser publicado, seu texto será editado e/ou revisado por uma equipe profissional, e isso eleva a qualidade da sua escrita. Considere isso como uma oportunidade de crescer profissionalmente, recebendo um feedback especializado;
  4. Processo de publicação: na minha opinião, uma das melhores partes de ser publicado é poder acompanhar de perto cada etapa do processo de publicação! Você vê a evolução do seu próprio trabalho com o processo de revisão e tem o seu texto como parte de um conjunto maior e coeso. Algumas editoras dão spoilers da edição e compartilham um pouquinho de cada etapa com os autores; 
  5. Networking: ao participar de uma publicação coletiva, seja em uma revista ou antologia, você tem a oportunidade de conhecer outros autores. Isso amplia sua rede de contatos profissionais, permitindo a formação de novas parcerias e trocas de experiências. Já fiz boas amizades durante a publicação das antologias que já participei; 
  6. Portfólio: conforme você publica, vai criando um portfólio ou catálogo de trabalhos para chamar de seu. As publicações fortalecem a carreira do escritor e mostram o reconhecimento da qualidade de sua obra. Já pensou reservar um espacinho na sua estante para guardar seus próprios trabalhos? 😍

Dicas para ser selecionado em concursos literários

Ao longo do caminho, você receberá aceites e recusas em meus textos e os motivos para isso variam muito! O fato é que nem sempre a gente consegue vencer. Mas, com algumas dicas simples, você pode ficar atento para aprimorar sua participação nos concursos, veja só: 

  1. Sempre leia o edital: algumas pessoas enviam textos sem conferir se o tema se adequa ao que está sendo solicitado no edital, ou mesmo se o número de palavras ou formato do texto estão no padrão exigido. Para evitar uma recusa que pode te desmotivar, leia atentamente a descrição da proposta e as regras do edital e envie seu texto apenas se ele cumprir com todos os requisitos; 
  2. Escolha suas batalhas: não adianta sair enviando seus textos para qualquer concurso. É importante que você pesquise sobre a instituição que está promovendo a ação. Veja se seu texto condiz com o gênero dessa publicação, se os seus valores são parecidos com os valores da revista ou editora e, finalmente, pense se o público leitor dessa publicação faz sentido para você e sua obra. Pensar nesses detalhes te ajuda a direcionar suas inscrições para aqueles concursos que mais combinam com você;
  3. Não escreva para ganhar: pode parecer estranho, mas é verdade! Não escreva pensando em agradar os jurados, ao invés disso, escreva as histórias que deseja contar, seja autêntico e explore suas técnicas para aprimorar seu estilo. Quando encontrar um concurso que combine com você, ótimo! Pode ter certeza que a classificação vem como uma consequência natural da qualidade da narrativa e da escrita. 

Nos últimos anos, participei de algumas antologias de contos e fiz parcerias com três editoras, chegando a ser convidada para escrever mesmo sem me inscrever em um concurso. Tudo isso me abriu portas e me apresentou a autores incríveis! No meio desses contatos surgiram outras oportunidades de publicação e divulgação de minhas crônicas e contos. 

Hoje, tenho muito orgulho de fazer parte da equipe editorial de uma revista literária que é cem por cento digital e de acesso gratuito, a Revista Maçã do Amor, que divulga histórias de amor de autores nacionais. No nosso site, você acompanha tudo sobre os próximos editais, além de poder se divertir lendo as edições já publicadas. 

Fazer parte da equipe de seleção da revista me deu outro olhar sobre a importância dos concursos literários, a diversidade e riqueza de temas e autores em busca de um canal de publicação para seus textos, além de, é claro, a importância de aprimorar as habilidades de escrita e o networking dentro do mundo literário. 

Espero que esse texto te ajude na hora de se inscrever em seu próximo concurso! Boa sorte e quem sabe não nos encontramos em alguma publicação? 💜

Publicado originalmente em: Medium.

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Como escrever todos os dias: exercícios para destravar a escrita

Quem me acompanha por aqui já deve saber que eu sempre amei escrever! Como hoje trabalho com as palavras, sentar em frente ao computador e encarar uma página em branco se tornou minha rotina. Mas esse nem sempre foi um hábito… Destravar a escrita é um desafio que vencemos diariamente, e hoje quero compartilhar algumas dicas de exercícios que me ajudaram — e ajudam — a estimular o hábito de escrever todos os dias.

Exercitando a escrita

Exercícios de escrita são uma ótima maneira de melhorar a produção de textos. Eles ajudam tanto a destravar um projeto atual, oferecendo novas perspectivas; quanto são verdadeiros estimulantes para exercitar a criatividade e gerar novas ideias que podem vir a ser trabalhadas e desenvolvidas.

Alguns exercícios simples que ajudam a praticar são:

  1. Faça a descrição detalhada de um cômodo da sua casa. Não importa se é a cozinha ou o banheiro, o objetivo é refinar seu olhar para os detalhes e praticar a descrição do cenário que rodeia a cena;
  2. Pegue uma notícia e escreva uma história a partir dela. Pense em quem são os personagens envolvidos na trama, quais seus desejos e motivações. Isso te ajudará a dar mais profundidade para seus personagens;
  3. Quando sair, preste atenção aos diálogos. Em um restaurante, parque ou transporte público, preste atenção nas pessoas e repare no que elas falam e na maneira como falam. Use algo que ouvir como base para criar uma história — pode ser uma história curta mesmo, a ideia é expandir uma cena a partir de um elemento disparador.

E vale lembrar que nada do que você escrever aqui precisa ser o seu melhor trabalho. Esses exercícios são apenas uma forma de te estimular a praticar.

Praticando diariamente, você escreverá melhor a cada dia 😉

Experimente o exercício das páginas diárias

Esse exercício merece um tópico à parte! No livro “O Caminho do Artista”, de Julia Cameron, a autora propõe um exercício de “páginas matinais”. Funciona mais ou menos assim: todos os dias pela manhã, você se senta e escreve — em um caderno ou no computador — pelo menos três páginas.

Segundo a autora, o ideal é fazer o exercício pela manhã mesmo, pois apesar do nosso corpo já estar funcionando, o cérebro ainda não “ligou” completamente e, por isso, nossos mecanismos de defesa ainda não foram totalmente ativados. É como se pudéssemos “ser mais nós mesmos” nesse período e, por isso, a escrita flui com mais naturalidade.

Em alguns dias pode sair um desabafo, em outros uma descrição, vale até lista de supermercado, caso isso esteja ocupando sua mente. O mais importante é que você não deve se preocupar com regras gramaticais, pontuação ou coerência. Sinta-se livre para colocar as palavras no papel exatamente da forma como elas saírem, o que importa é que sejam o mais fiéis possível aos seus pensamentos no momento. E pode ficar despreocupado, elas são só suas — não precisa mostrá-las para ninguém se não desejar.

O objetivo é conseguir tirar da frente aquilo que pode estar te travando. Esse livro é um verdadeiro guia, não apenas para escritores, mas para todos os artistas que estão em busca de se conectarem mais profundamente com sua criatividade.

Em minha experiência pessoal, nem sempre consigo escrever livremente pela manhã, pois alguns compromissos tomam conta da minha agenda. Porém, todos os dias busco resgatar uma escrita mais espontânea de dentro de mim.

Desde que comecei a escrever profissionalmente, sinto que minhas palavras se tornaram mais técnicas, um pouco mais formais. Recuperar essa espontaneidade é um desafio. Mas estou sempre em busca de me encontrar através de minha escrita, afinal, foi isso que me motivou a escrever em primeiro lugar.

Pratique, pratique e pratique mais um pouco

Escrever não tem segredo, mas requer constância. Escrever bem não é um dom, é treino. Ficamos melhores à medida que o tempo passa e exercitamos os dedos e a mente.

E se você, assim como eu, escreve — ou deseja escrever — profissionalmente, saiba que precisa escrever com ou sem inspiração, então não resta alternativa a não ser sentar e escrever.

Costumo dizer que a escrita é como um alongamento: quanto mais você se alonga, mais espaço abre dentro de você. A cada dia, a cada alongamento, você consegue estender um pouquinho mais. É aos poucos que você trilha um caminho para chegar onde sequer imaginava que seria possível (obrigada aulas de Yoga por me ensinarem a viver isso dentro e fora do tapete!).

Por isso, a repetição é o caminho para o hábito. Diversos autores revelam seus exercícios de escrita e todos têm uma coisa em comum: a persistência. Não importa se você está motivado ou não, sente e pratique.

Mas também não adianta escrever sem rumo. Parar para refletir é muito importante! Minha dica é que você defina o seu objetivo com a escrita. Seja sincero consigo mesmo e se pergunte:

● O que você quer é um hobbie ou uma atividade profissional?

● Quer criar histórias de ficção ou transmitir seu conhecimento e técnica para outras pessoas?

Suas respostas serão seu guia na jornada com as palavras. Assim que definir um objetivo, você se sentirá mais motivado a praticar sua escrita.

Depois disso, recomendo que você faça um compromisso consigo mesmo: escrever é um ato solitário e, por isso, precisamos contar ao mundo e, principalmente, a nós mesmos, que precisamos de tempo, espaço e silêncio.

Converse com as pessoas que moram em sua casa para que elas respeitem seu tempo de escrita, e também faça a sua parte: desligue as notificações e minimize ao máximo as distrações para que você possa se focar.

Alterne períodos de produção com intervalos de descanso, afinal, eles também são importantes! Saber a hora de parar nos ajuda a descansar a mente e, além disso, consumir conteúdos e se permitir o lazer, nos oferece repertório para alimentar a nossa criatividade. Por isso, as pausas podem ser revigorantes para o escritor.

Escrita e autoconhecimento

No fundo, todo escritor fala sobre si. Quanto mais exploramos a escrita e nos desafiamos a persistir escrevendo, mais temos a chance de nos conhecermos.

Escrever é marcar um encontro com si mesmo e uma página em branco. O exercício das páginas diárias é uma oportunidade incrível de aprender mais sobre si, lidar com suas inseguranças e bloqueios criativos, além de ajudar a descobrir o tom da sua voz e estilo de escrita.

Ao contrário do que pode parecer, esse exercício não é introspectivo. Ao contrário, ele nos convida a colocar pra fora, dividir com o mundo aquilo que existe dentro de nós. Começamos com uma folha de papel, em um espaço íntimo. Mas a disciplina e o hábito nos dão a força e a coragem para ir além.

Se você gostou dessas dicas, recomendo que experimente por pelo menos uma semana — o ideal é que seja por um mês, o tempo que levamos para criar um novo hábito. E continue me acompanhando por aqui, pois a partir da minha experiência como redatora, eu compartilho dicas práticas de escrita e produção de conteúdo. Aproveita e me conta se você tem alguma outra técnica que funciona pra você, vou adorar conhecer e experimentar 💜

Publicado originalmente em: Medium.

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Eterno Rascunho

Não sei se você já reparou, mas existe algo de muito confortável em se trabalhar em um rascunho.

Quando começo a escrever um texto novo, nomeio o arquivo de “Rascunho”, seguido de seu tema principal, ou mesmo do título, se eu já tiver definido algum. Neste momento, sei que posso escrever qualquer coisa.

Posso me aventurar pelas palavras com a segurança de que a edição ainda vai chegar. Se precisar, posso apagar, reescrever e até mesmo recomeçar. E saber disso me dá uma liberdade imensa, experimento combinações e me aventuro pelas palavras.

Depois de escrever em um fluxo livre, gosto de deixar o texto e minha mente descansarem. Vou para outro trabalho e espero alguns dias passarem, e então retorno a ele com um novo olhar. Sinto que assim consigo lapidar ainda mais minhas palavras: desenvolvo melhor um pensamento, encontro erros de digitação e moldo as frases. Amarro os pensamentos de forma que o texto fique coeso e mais agradável para a leitura.

É depois disto que bate a insegurança… Quando declarar que um texto está realmente pronto? Pois sei que se eu me afastar novamente, quando retornar, terei outras alterações para fazer. Até quando vale a pena editar um rascunho? Como saberei quando declará-lo finalizado?

Vivo com o computador cheio de rascunhos e pendências, sem conseguir afirmar com certeza quando é que algo está realmente pronto. É difícil determinar o momento em que algo está concluído, que o pensamento se esgotou e eu consegui passar toda a ideia para o papel, me expressando da melhor forma que consigo – naquele momento. 

Acredito que a escrita, seja ela ficcional ou teórica, é muito influenciada pelo momento em que vivemos. Todo texto carrega um pouquinho dos nossos valores e modo de pensar, por isso, nosso estado emocional e nossa bagagem de experiências influencia as palavras que colocamos no mundo.

Sei que se eu reler um texto antigo sentirei vontade de arregaçar as mangas e começar um belo processo de edição, afinal, a pessoa que o escreveu já é diferente da que o lê hoje.

Por isso, digo que todos os textos são como eternos rascunhos, pois sempre pode-se mudar algo, e é justamente isso que torna a escrita um processo tão particular para cada autor. Então, de fato, não há muitas formas de mensurar a qualidade de um texto e decidir o momento de colocar seu ponto final.

Eu não termino um texto, apenas me canso de lhe fazer alterações.

Chega um momento em que é preciso deixá-lo partir. O texto ganha autonomia assim que o assino. Sei que ele sempre conterá minhas palavras, mas isso não quer dizer que elas ainda tenham o mesmo significado para mim e, se pudesse, sei que alteraria boa parte delas.

Caso você esteja se perguntando, esse texto foi editado algumas vezes antes da postagem e talvez seja melhor eu nunca relê-lo, pois só assim não desejarei fazer novas adições ou alterações. Dito isso, me despeço deste texto, e de você, caro leitor, com um sofrido ponto final.

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Será que alguém nasce querendo ser escritor?

Quando criança, meu sonho era ser professora, assim como minha mãe.

Assim que entrei na pré-escola, meus pais penduraram uma pequena lousa no quintal. E eu passava a tarde toda lá fora, dando aula para uma fileira de bichinhos de pelúcia enquanto sujava toda minha roupa com giz.

Em seguida, comecei a desenvolver o gosto pela leitura. Os livros sempre foram bons companheiros. Primeiro herdei as antigas edições de contos de fadas que fizeram parte da infância de minha mãe, depois, chegaram os livrinhos infantis garimpados nas feirinhas da escola e, com alguma frequência, ganhava gibis da Turma da Mônica.

Uma de minhas brincadeiras favoritas era copiar as histórias dos livros em um caderno, já que eu logo terminava de ler e precisava esperar até ganhar o próximo gibi ou livro. Eu transcrevia as palavras e quase decorava uma história quando gostava dela.

Pode parecer estranho, porque era mesmo. Mas foi assim, de maneira solitária e me apoiando em outros autores, que me introduzi no mundo das palavras.

Na adolescência, comecei a me arriscar com minhas próprias ideias, escrevendo trechos de histórias sobre minha banda favorita, as famosas fanfics. Mas, sentia tanta vergonha que nunca consegui mostrar meus rascunhos para ninguém. É uma pena que eles tenham se perdido com o tempo.

Conforme fui crescendo, surgiu a curiosidade com o comportamento humano, um brilho nas aulas de filosofia. Algumas questões inquietavam minha mente adolescente e me faziam buscar respostas nos livros, foi assim, no último ano do ensino médio, que decidi ser psicóloga.

Entrei na faculdade e pensei ter encontrado meu lugar ao sol. Passei os anos seguintes  deslumbrada dentro da enorme biblioteca do campus, e se engana quem pensa que parei de estudar quando me formei. Aliás, arrisco dizer que foi só então que aprendi a estudar: sem um professor guiando meus passos, dizendo qual capítulo eu deveria ler ou o que decorar para uma prova.

Comecei a estudar filosofia e logo encontrei um grupo de estudos. As leituras coletivas me ajudaram a entender aquelas difíceis e encantadoras palavras. Os cadernos de anotações viraram meus tesouros.

Eu só não contava que a profissão fosse tão solitária. Com algumas horas vagas em meu consultório, a vontade de escrever voltou: pensamentos, frases. Foi assim que comecei a organizar meus sentimentos em um pedaço de papel.

Meu irmão foi o primeiro a dizer que um dia eu seria escritora, já que era uma ávida leitora. Eu não acreditei nele, e cheguei a rir de sua sugestão, afinal, não acreditava que eu tivesse algo de interessante a dizer.

Mas persisti, fui escrevendo a cada intervalo, dando voz à imensidão que me habitava. Ficção e realidade começaram a se misturar conforme meus pensamentos encontravam a folha em branco.

Tive a sorte de ser incentivada por amigos e familiares, que aceitaram ler meus escritos tão logo tive coragem de tirá-los da gaveta. E assim, a escrita passou a ocupar um lugar tímido em minha vida, um momento de descontração e lazer.

A verdade é que as pessoas à minha volta me reconheceram como escritora antes que eu o fizesse.

No trabalho, sempre sobrava pra mim a missão de escrever comunicados e agradecimentos, já que eu articulava tão bem as palavras. Quando precisava escrever um cartão, logo me passavam a caneta, afinal, eu era boa nisso.

O primeiro convite para publicação de um conto chegou como presente de natal atrasado, um singelo e-mail no dia vinte e seis de dezembro. Um ano depois, mais um. Mais dois anos, e eu já conto com uma pequena prateleira de participações.

Eu já deveria ter sacado à essa altura, não acha? Sinto lhe informar, caro leitor, mas demorei um pouco mais. Precisei ficar entre dois empregos, me sentindo extremamente perdida e desmotivada para olhar para os lados e perceber algo que esteve ali esse tempo todo.

Dessa vez, quando me perguntaram o que eu gostava de fazer, a resposta escapuliu: “escrever”. Foi mais forte do que eu, com gosto de sonho, mas então já era tarde. Ouvi minha própria voz ressoando por dentro e me atrevi a pensar o “e se” mais maluco da minha vida: “e se eu fosse escritora?”

Transformar esse hobby em profissão foi fácil, pois ele já estava completamente entremeado em minha vida, a rede de contatos, o blog e o portfólio feitos. A mudança de identidade simplesmente aconteceu.

Não nasci querendo ser escritora, mas foi nas palavras que descobri minha voz e tudo o que eu gostaria de dizer ao mundo.