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Término

Quando algo termina? É no último contato ou antes, assim que se toma a decisão? É quando a ideia surge pela primeira vez à mente, como um rápido lampejo ou é apenas depois de dolorosos meses quando finalmente paramos de pensar no assunto?

No ano passado, decidi parar um curso. Encerrei todo um ciclo e fechei uma etapa importante da minha vida. Naquele momento, mudando de profissão, o curso perdeu a necessidade e também o espaço em minha apertada rotina. Foi difícil tomar a decisão e pior ainda contar ao grupo que eu ficaria apenas até o final do mês, só mais um pouquinho, para fazer os devidos encerramentos.

No primeiro dia, quando dei a notícia, chorei, choramos todos juntos. Tentaram me convencer do contrário, mas foram todos compreensivos, deram o apoio que eu tanto precisava naquele momento. Na semana seguinte, senti um mal-estar enorme e me faltava vontade de aparecer por lá. Parece que não havia sentido em ir quando estaríamos todos contando os dias até meu término. Me arrastei, eu precisava ir! Precisava encerrar direito, honrar com minha palavra e compromisso. Mas, uma vez que a decisão foi tomada, as cores do caminho mudaram, os sons já não eram os mesmos, a graça de ouvir as histórias dos colegas se fora, deixando no lugar uma dolorosa pontada que me lembrava de que eu não acompanharia o desenrolar de nenhuma daquelas histórias e, por mais que prometêssemos uns aos outros que manteríamos contato, nunca mais sairíamos da aula para tomar um cafézinho, ou nos ajudaríamos mediante a uma crise no trabalho ou mesmo trocaríamos as tão pessoais confidências como costumávamos fazer.

Na semana seguinte, com mais dificuldade ainda, fui sabendo que em breve deixaria de participar das histórias que o grupo construía junto, logo eu deixaria de conhecer as brincadeiras e participar das decisões. Contei, acanhada, sobre meus encerramentos e encaminhamentos, tudo praticamente finalizado. Um misto de alívio e uma precoce nostalgia se misturavam em meu peito.

O dia do último encontro, meu último encontro, foi o mais difícil. E foi então que me peguei pensando se aquele ciclo se encerrava ali ou se eu já tinha fechado aquela porta ao tomar e comunicar minha decisão. E, se fosse esse o caso, como eu faria para suportar aqueles instantes finais? Como eu podia encerrar algo que já estava acabado?

Se eu faltasse, me sentiria covarde, incapaz de lidar com algo que eu mesma escolhi, com a sensação de não conseguir terminar. Porém, a partir do momento em que tomei a decisão, passei a me sentir esvaziada, como se já não tivesse mais motivos para estar ali, tendo em vista o eminente fim de tudo aquilo.

O que me motivou a ir foi saber que eu precisava me despedir, precisava agradecer a todos por aqueles três anos passados dentro daquela sala, todo o fortalecimento que aquele aprendizado me trouxe, precisava de cada troca de olhar, de cada abraço que eu queria dar e receber. Mas por que essa mania de esperar a hora da despedida para dizer aquilo que sentimos e pensamos? Por que esperar o momento da perda para nomear tudo o que acontecia diariamente ali?

Eu não sei quando tudo começou a terminar, mas foi um processo longo, doloroso e muito bonito, saí com a certeza de que era muito querida e de que deixava um pedaço meu naquele grupo, levando em troca um pouquinho de cada um que se encontrava naquela sala, toda terça-feira, logo depois do almoço. Talvez tenha acabado apenas hoje, quase um ano depois, quando finalmente revisitei essas memórias e comecei a escrever esse texto. Ou talvez ainda não tenha terminado, já que me importo o bastante para ainda pensar sobre isso e terminar com as mãos trêmulas no teclado sem saber onde, como ou quando colocar um ponto final aqui.

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