Eu perdi uma amiga durante a pandemia. Não, não foi da forma como você está pensando. Ainda assim, doeu bastante.
Algumas amizades definham, outras simplesmente terminam.
Assim que saí da escola, prometi manter o contato com meus amigos. Mas a vida foi ficando corrida, cada um foi para um lado e então vieram a faculdade, o trabalho, o namoro… E ficou cada vez mais difícil nos encontrarmos.
Ainda trocávamos mensagens, lutávamos para abrir um espaço em comum em nossas agendas, até que a comunicação foi se espaçando para mensagens de aniversários e uma curtida aqui, outra ali.
E eu entendi que isso faz parte da vida. Ainda tenho algumas dessas pessoas nas redes sociais e acompanho, de longe, um pouquinho sobre suas vidas: uma foi morar fora do país, outra se casou e já tem uma filha, e uma delas dá dicas incríveis em seu perfil profissional. Às vezes a gente cresce em sentidos diferentes e os desencontros acontecem.
Na faculdade, o ciclo se repetiu, bem como em outros meios que frequentei. Algumas pessoas se afastam, enquanto outras seguem guardadas com carinho na memória. E são poucas as que realmente ficam, que crescem com a gente e continuam fazendo sentido em nossa história. Essas se tornam muito especiais – e essenciais – com o tempo.
Mas, pouco menos de um mês antes do mundo virar de cabeça para baixo, tive um pequeno desentendimento com meu grupo de amigos. Do meu ponto de vista era algo simples mesmo: manifestei um incômodo, gerei um incômodo, e conversamos sobre isso para seguir em frente sem mal-entendidos – ou pior, coisas não ditas.
Estávamos trocando mensagens até que alguém propôs um encontro presencial para conversarmos sobre tudo. Porém, logo em seguida, chegou a notícia da pandemia e da quarentena aqui no Brasil. Obviamente nosso encontro foi adiado.
E é claro que ninguém esperava que precisaríamos passar tanto tempo afastados.
Como medida emergencial, deixamos tudo isso de lado e nos comprometemos a trocar notícias, afinal, a prioridade era saber se todos estavam bem e em segurança. A amizade falou mais alto, sabe?
Mas um incômodo ficou, e foi com uma única pessoa. Aquilo ficou martelando na minha cabeça, então eu a procurei e tentei resolver, mas ela disse que não estava em condições de lidar com isso no momento – bom, em meio a uma pandemia, quem poderia julgá-la?
Só que os meses foram passando, e ela negou todas minhas tentativas de contato, até que atingimos o ápice: eu enviei um presente pelo correio em seu aniversário e ela nem se deu o trabalho de agradecer. Eu, boba, fui perguntar se havia sido entregue, pois a primeira coisa que eu pensei foi em extravio e não em descaso. Me enganei.
Esse foi o começo do fim.
A partir daí, comecei a me questionar se essa amizade tinha mesmo algum valor, pois, aparentemente, não era recíproca. Será que valia a pena insistir em alguém que decidiu me tratar de tal maneira? Passei os meses seguintes refletindo sobre isso e elaborando esse término.
Confesso que a história teve um agravante: nossos amigos em comum. Fiquei insegura quanto ao grupo e não quis envolvê-los, pois não queria que ninguém precisasse se posicionar. Entendi que aquele era um caso isolado – entre ela e eu.
Com o tempo, eu consegui me libertar desta relação. Nós compartilhamos muitos bons momentos juntas, sei muito sobre sua história, assim como ela sabe sobre a minha. Vivemos o final da adolescência e início da vida adulta juntas, foram muitas inseguranças compartilhadas, muito incentivo e sororidade – aliás, a gente nem conhecia essa palavra naquela época.
Eu acredito que nada apaga um relacionamento de mais de uma década. Mas é muito estranho pensar em como a balança estava desnivelada e em como ela não teve um pingo de consideração com nossa história.
Hoje, somos estranhas, mas ainda carregamos tantas memórias dos momentos compartilhados… Eu sei que este é um lugar estranho para se ocupar na vida de alguém, ainda assim, é melhor do que manter por perto – ou tentar ficar perto – de alguém que não te faz bem nenhum.