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Ai, que angústia!

Alguma vez você já sentiu aquele aperto inexplicável no peito? Não há nenhuma causa física, você sabe que está tudo bem com o seu corpo, mas há, definitivamente, algo acontecendo com você.

Então você se põe a pensar. Não é medo. Não, o medo é sempre medo de alguma coisa, o que quer dizer que temos um objeto sempre muito bem definido para o nosso medo. Objeto esse que se encontra disponível no interior do mundo. Posso me amedrontar, por exemplo, diante de uma barata, e não há explicações racionais para ele. Eu sei que ela é menor do que eu e até mesmo inofensiva, mas ainda assim sinto-a como uma iminente ameaça ao meu ser.

Tampouco é ansiedade. Ansiedade já é uma velha conhecida minha. Vem na forma de palpitações, de suor e até tremor. Aparece sempre que estou nervoso, imaginando algo que ainda não aconteceu. Porque é isso que a ansiedade é: a antecipação de um futuro que ainda está por vir. Me prendo a ele, realizando-o previamente em minhas fantasias e acabo por viver o momento duas vezes, primeiro em pensamento – e até em sintomas – e depois, quando de fato ele se faz presente. Por isso ela é tão cansativa, imagina ter que viver uma situação aflitiva em dobro!

Não, mas esse incômodo que se instalou hoje em mim não é nada disso, não tem objeto definido e não se trata de uma antecipação. É pior, é vazio. É angustiante.

É isso… Angústia! E foi assim que fui apresentado a ela, de forma brusca, sendo arrancado do mundo com o qual já estava familiarizado e me esvaziando, em meio a uma indeterminação que se abateu sobre mim no momento em que me dei conta de que, enquanto homem, não tenho um caminho delineado e sou condenado eu mesmo a trilhar e percorrer – sozinho – o meu caminho. Aquele que escolhi.

Me senti assim a partir do momento que não pude mais encontrar conforto na comodidade do cotidiano, que já tem um conjunto de sentidos prontos, aos quais podemos sempre recorrer, afinal “a gente” vive a vida do mesmo jeito, é assim que as coisas são, “a gente” escolhe, “a gente” faz, “a gente” vive e “a gente” até mesmo morre.

Na angústia, experienciei a perda de todas as possibilidades cotidianas e um estranhamento com meu próprio mundo. E se não encontrei objeto para direcionar minha aflição foi porque o que me angustia é o meu próprio ser. Me senti esvaziado de sentido, pois nenhuma das minhas certezas parecia ainda ser válida, e não encontrei nada para preencher o buraco que ali se instalou. Quem me dera se uma barata pudesse vir em meu socorro agora, é tão fácil repudia-la.

Tal percepção durou apenas um instante, então logo consegui fazer o que “a gente” faz: fugi. Transformei-a em medo, utilizando o primeiro objeto que estava à mão e encontrei conforto em um sintoma como jamais imaginei possível.

Mas aquele instante me transformou. A partir dele, me tornei outro. Sou um ser que entrelaça passado presente e futuro em uma rede de significabilidade que compõe o que chamo de “minha história”, assim como você e todos os outros com os quais dividimos o mundo, mas hoje eu sei disso, e no fundo sei que não há como fugir.

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