Quantas vezes você já se sentiu na obrigação de fazer alguma coisa só para agradar alguém? Seja fazer um favor, atender um pedido ou mesmo para agradar uma pessoa querida. O fato é que muitas vezes dizemos “sim” quando queremos dizer “não”.
Mas por que é que essa palavrinha pode ser tão difícil de ser dita?
É sobre isso que conversaremos no artigo de hoje: por que é tão comum nos submetermos a situações ruins, quando um simples “não” nos pouparia muita energia, tempo e estresse? Continue a leitura e descubra alguns dos motivos que podem estar te travando.
Sempre reparo em como é comum as pessoas sentirem dificuldade de priorizar os próprios interesses e vontades e acabarem se rendendo a situações ruins que seriam evitadas com uma recusa. E por que tanta contradição? Por que aceitamos docilmente e ignoramos os sinais que nosso corpo e mente nos dão sobre aquilo?
Alguns dos principais motivos são:
- Aceitação: desde muito novos, somos ensinados a aceitar e, por isso, queremos pertencer, queremos ser aceitos. Quem não deseja ser o amigo estimado, o filho querido, o colega de trabalho bem visto?;
- Necessidade de querer agradar a todos: essa vontade de ser aceito pode nos conferir uma identidade de “pessoa boa”, sabe aquele amigo que faz tudo? Esse mesmo! O fato é que algumas pessoas, sem perceber, desagradam a si mesmas numa tentativa de agradar as outras;
- Sentimento de rejeição: com medo de ser mal interpretado ou mesmo rejeitado, podemos acabar aceitando situações na tentativa de preservar nossos relacionamentos;
- Querer ser prestativo: é muito bom ajudar os outros, e algumas pessoas se sentem realmente bem sendo prestativas. Mas até a solidariedade precisa de limites, caso você esteja sendo prejudicado no caminho;
- Evitar conflitos: é comum que as pessoas se submetam e aceitem determinadas situações em nome de evitar conflitos com seus entes queridos, com medo de perder ou prejudicar seus relacionamentos;
- Achar que o problema dos outros é mais importante do que suas próprias necessidades: aqui temos um alerta para questões de autoestima. Às vezes exageramos na dose de querer ser prestativo por reconhecermos os problemas que as outras pessoas passam, mas corremos o risco de esquecer ou não considerar nossas próprias questões.
Ao dizer “sim”, quando na verdade sua vontade é justamente a contrária, muitas pessoas se sujeitam a situações ruins e relacionamentos tóxicos, gerando uma série de prejuízos para si.
É muito comum que essas pessoas se sintam sobrecarregadas e frustradas. Pois tentam abraçar o mundo ao aceitar tudo e então não dão conta de fazer ou concluir tudo aquilo com o que se comprometeram.
É preciso entender a necessidade de estabelecer limites, que sejam saudáveis para si e para as relações, caso contrário, criamos e estimulamos relacionamentos abusivos que, com o passar do tempo, se tornam insustentáveis.
Para criar esses limites, você deve primeiro voltar-se para dentro e entender até onde você consegue aceitar e ajudar o outro sem se prejudicar. Uma pessoa que simplesmente aceita tudo, pode passar a ter dificuldade em reconhecer o que gosta ou não, o que lhe faz bem e o que lhe faz mal. Justamente por não ser seletiva, não filtrar suas demandas. É como se dependesse do outro para guiar e decidir sua própria vida.
A importância do Autoconhecimento:
Uma boa dose de autoconhecimento nos ajuda a entender nossas necessidades e desejos, além dos medos, inseguranças e necessidade de pertencimento, que podem estar dificultando a tomada de decisões.
Saber reconhecer e atender às próprias necessidades é algo que exige prática. Priorizar suas próprias vontades não é algo que acontece do dia para a noite. Praticar o autoconhecimento é essencial para entendermos nossas atitudes e a sincronia entre as reações do organismo e tudo aquilo que acontece em nossa vida. É praticar a autopercepção, entendendo o que se sente, pensa ou gosta.
Então, só para deixar bem claro: cuidar de si não é egoísmo, é ter amor próprio e saber se respeitar. Tão importante quanto cuidar de amigos e familiares, é saber cuidar de si. E isso não significa que você não se importe ou não se preocupe com as outras pessoas, quer dizer apenas que entende a importância de estar bem consigo mesmo para que possa então contribuir com o bem-estar de outras pessoas.
Exercer o autocuidado ajuda nesse processo e, com o tempo, você terá mais clareza e facilidade para identificar suas necessidades e limites.
Do mesmo modo que você consegue compreender suas necessidades, passa a conseguir identificar as necessidades das outras pessoas, então, por meio da prática do autoconhecimento, também desenvolverá mais empatia. E isto tende a trazer uma melhora significativa para os seus relacionamentos. Muito maior, inclusive, do que se você estivesse apenas aceitando todas as solicitações alheias sem nenhum tipo de filtro.
E quando o “não” deve ser dito?
Sempre que você perceber que será mais saudável a todos. É verdade que aprender a dizer “não” é um processo: no começo será difícil e incômodo, e nem sempre é fácil lidar com a reação da outra pessoa. Romper padrões de comportamento é um desafio. Mas, a longo prazo, você estará criando relacionamentos mais saudáveis e, principalmente, uma relação mais amorosa e respeitosa consigo mesmo, e assim todos saem ganhando.
Precisamos treinar o uso da palavra “não” para não abrirmos mão de nossa liberdade, tempo e interesses. Afinal, somos todos importantes e temos nossas próprias tarefas para realizar.
Em cada situação, reflita antes de responder “sim” ou “não”.
Para finalizar, listei a seguir algumas sugestões que podem te ajudar na construção deste novo hábito:
- Pratique o autoconhecimento: como já foi dito, aprenda a reconhecer suas necessidades e ponderá-las com as demandas externas, assim será mais fácil estabelecer os seus limites;
- Estabeleça limites e prioridades: não temos tempo para fazer tudo o que somos solicitados, por isso, é importante estabelecer prioridades e escolher a forma como usamos nosso tempo. E não se esqueça de que você deve ser sempre sua própria prioridade;
- Seja claro e objetivo em suas decisões: você não precisa de justificar ou dar muitas explicações, mas seja claro sobre os motivos de não conseguir atender a uma solicitação, para que o outro entenda e respeite sua decisão;
- Não se sinta culpado: lembre-se de que se priorizar não significa que você esteja sendo egoísta. Não se sinta mal quando precisar ou quiser negar um pedido. Faça escolhas assertivas sobre como usar sua energia e tempo;
- Faça outra proposta: se você não puder ajudar ou fazer o que foi solicitado, pense se há outra maneira de ajudar, oferecendo uma solução ou caminho viável, assim poderá contribuir de outra forma, sem se comprometer;
- Repasse a tarefa: caso você não consiga ajudar, mas conheça alguém que possa, indique o caminho, forneça um contato, enfim, ajude a pessoa a ter sua solicitação atendida por alguém que esteja disponível, uma vez que você não esteja naquele momento;
- Peça um tempo: você não precisa aceitar na mesma hora. Se não estiver confortável com a situação, você pode pedir um tempo para pensar e assim elaborar uma lista de prós e contras, ou então pensar em uma alternativa que ajude a pessoa sem comprometer seu tempo e energia;
- Repita: se a pessoa não entender ou insistir, repita o seu “não”. Não ceda apenas por pressão. Ceder é abrir mão da própria liberdade de escolha.
Qualquer que seja a sua agenda e seus compromissos, eles devem primeiramente ser respeitados por você, e só depois pelas outras pessoas. Se você não consegue se priorizar, não espere que ninguém faça isso por você.
Coloque as sugestões em prática na próxima vez que for solicitado a realizar algo que você não tem conhecimento, tempo ou vontade de fazer. Logo você verá o resultado dos seus “não”s convertidos em mais tempo e energia em suas próprias atividades.
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