Se vamos ser honestos um com o outro, preciso fazer uma confissão: eu gosto de observar pessoas na praça de alimentação. Pronto, falei.
É como observar uma espécie em seu habitat natural e, como paulistana, eu diria que o lugar mais apropriado é o shopping.
Toda vez em que eu preciso dar uma saidinha de casa, para mudar um pouco de ambiente, pego meu caderno de rascunhos e meu laptop e vou almoçar ou tomar um café fora de casa. A vantagem de morar perto de um shopping é a diversidade de opções que existem na praça de alimentação. Então, sento-me em alguma mesa estrategicamente posicionada no canto do salão, quase escondida e esquecida por todos, mas com um ótimo ângulo para observar tudo o que acontece ao redor.
Tem de tudo um pouco: casais que criam uma brecha no dia só para se encontrar e, momentaneamente esquecer do mundo nos braços um do outro; pequenos grupos de estudantes uniformizados que saem juntos após a aula; mães que não quiseram ou não tiveram tempo de fazer o almoço; pequenas reuniões de negócios; novos matchs do Tinder se formando bem ali – em local público; almas solitárias que encontram companhia em seus livros logo após a refeição; pessoas que prestam mais atenção no celular do que nas garfadas que levam até a boca; funcionários de diferentes restaurantes aproveitando o horário de intervalo para interagirem entre si.
Tem atendente do McDonald’s conversando com chapeiro do Burger King, cozinheiro de restaurante por quilo almoçando comida mexicana. A mistura de culturas e de mundos que acontece dentro de uma praça de alimentação é inesgotável.
A comida tem um valor social muito grande, dizem que ela nos une, não é mesmo? O fato é que a maioria dos encontros, seja pessoal ou de negócios, acaba por envolver sentar-se em volta de uma mesa. Pelo menos um cafezinho pode ter certeza de que vai rolar.
É difícil me concentrar em qualquer atividade, mas volto para casa com o bolso cheio de referências para as próximas histórias, uma verdadeira aula prática de construção de personagens. Observo gestos, tons de voz, encontros e desencontros, o que as pessoas fazem quando estão sozinhas e como reagem quando seus encontros chegam. É praticamente um estudo antropológico.
Gosto de observar os detalhes que acontecem à minha volta e, eventualmente, dou uma olhadinha ao redor na procura de um estranho me observando. Tenho certeza de que alguém já escreveu sobre a garota solitária que passa a tarde dividindo a mesa – quase sempre a mesma mesa – com um computador e uma xícara de café e, ao invés de trabalhar, observa todos à sua volta. Fazendo anotações esporádicas em seu caderno. O que será que ela tanto anota?