Talvez eu esteja começando a entender minha mãe, mais de vinte anos depois dela sentir o que sinto hoje: a agonia frente ao primeiro dia de aula do filho.
Acordei cedo, preparei a lancheirinha, revisei tudo uma porção de vezes só para garantir que não esqueceria nada. Já pensou se a minha menina passa vergonha no primeiro dia?
Lotei a caixa de mensagens da responsável pela creche, para confirmar os horários de entrada e saída. Não quero que minha filha cresça com o trauma de ser a última a ser buscada depois da aula.
Assim que tudo foi confirmado, fiz alguns combinados com a pequena. Prometi que seria divertido e que as outras crianças gostariam dela. Sim, é claro que ela poderia voltar para casa mais cedo se algo acontecesse, mamãe estaria pronta para ela, era só pedir para a tia me ligar.
Na noite anterior, fiquei mais nervosa do que ela, me revirando na cama, sem conseguir pegar no sono. Enquanto ela dormia profundamente em sua caminha, sem saber o que esperar do dia seguinte.
Finalmente o momento chegou. Saímos de casa mais cedo, já que eu não conhecia o trânsito nesse horário. Estacionei a duas quadras da creche e demorei para conseguir tirá-la do carro. Acho que o nervosismo bateu, e então suas unhas agarraram o banco traseiro.
Conversei, esperei que ela se acalmasse e a carreguei no colo até a calçada. Fomos até a porta e uma funcionaria sorridente veio em nossa direção, já com a mão estendida para pegar a lancheira de minhas mãos.
Maya balançou o rabo timidamente, ainda insegura. Quando confirmou que a mulher tentava pegar sua guia da minha mão, virou-se, pulando em mim e pedindo colo.
Voltei a lhe dizer que tudo ficaria bem, ela passaria o dia se divertindo com os outros cachorros e, de noite, eu voltaria para levá-la para nossa casa. A moça se abaixou e fez um carinho atrás de sua orelha, seu ponto fraco. Maya foi amansando, até que aceitou se afastar de mim.
![](https://i0.wp.com/tatianelucheis.com/wp-content/uploads/2021/10/67.-Primeiro-Dia-de-Aula-1.jpg?resize=819%2C1024&ssl=1)
A funcionária, paciente, me garantiu que só o início seria difícil, mas, após algumas semanas, ela entenderia que aquela era sua nova rotina: viria brincar e sempre voltaria para casa depois.
“Posso buscá-la mais cedo, se necessário?”, perguntei.
Ela me tranquilizou, afirmando que não seria necessário. Maya ficaria bem.
Sim, mas e eu? Tive vontade de perguntar.