A crise dos trinta é real, mas a gente só acredita quando ela chega – e costuma chegar com os dois pés no peito, de mão dadas com problemas de saúde, pais envelhecendo e basicamente todos os seus relacionamentos em crise.
Desde a pandemia, sinto que minhas amizades nunca mais foram as mesmas. É claro que não tenho como saber como as coisas estariam hoje se não tivéssemos passado mais de dois anos trancados em casa, mas sei que isso pesou bastante na conta.
O ponto é que, depois de quase perder meus amigos, decidi que daqui pra frente eu quero ter a relação que for possível com cada um deles – e não mais aquela idealização que existe na minha cabeça.
Nossa geração cresceu assistindo Friends e acreditando que as amizades eram para sempre. Amigos que conhecem absolutamente todos os aspectos da sua vida e que estão sempre disponíveis. Ah, e que moram na porta ao lado, é claro.
Mas aí a gente cresce e descobre que na vida real todos começam a namorar, mudam de casa, os empregos tomam conta da maior parte da agenda e as pessoas se afastam.
O Instagram também não ajuda, já que parece que todos têm uma vida social melhor do que a sua. Um dia vi uma foto que acabou com minha autoestima e derramou todo meu amor próprio: meu grupo de amigos reunidos em uma comemoração para a qual não fui convidada. Fiquei de fora porque não falava mais com uma das pessoas em volta daquela mesa.
Não vou mentir pra você, foi um soco no estômago.
Passei semanas me perguntando onde eu havia errado e porque não fora “escolhida”. Tentei conversar, mas não fui bem recebida. Estava muito magoada e acabei magoando também.
E foi isso que me fez repensar todas as relações.
Algumas pessoas permanecem na nossa vida por afeto, aquele querer bem, uma vontade verdadeira de estar junto; outras, por nostalgia, são pessoas que tiveram um significado muito grande no passado, mas o que sustenta a relação são as memórias.
Veja bem, meu objetivo não é classificar nada em certo ou errado. Mas percebi que as pessoas se encaixam em lugares diferentes em nossa vida e, pasme, a gente também ocupa diferentes lugares na vida dos nossos amigos.
Não somos o centro das atenções sempre. Quando eu percebi que meus amigos podiam muito bem se virar sem mim, notei que eu também estava indo bem sem eles.
Amizade, namoro e família são complementos, uma companhia muito bem-vinda, mas a coisa fica estranha caso se torne uma dependência.
Cansei de idealizar. Cansei de verdade. Sinto que fico dando voltas e voltas e não consigo corresponder aos meus próprios ideais. A partir de hoje, eu quero ter a relação que for possível.
Depois de conversar e restabelecer a paz com esse grupo de amigos, eu realinhei minhas expectativas comigo mesma: coloquei na balança o que eu esperava dos meus amigos o que eles estavam me oferecendo. Porque não eram eles que tinham que mudar, era eu.
Nossa, vou te contar que tirei alguns quilos das costas depois que entendi isso. Tudo bem a gente se ver algumas poucas vezes no ano e demorarmos para responder mensagens. A minha vida é corrida e a deles também.
Com isso, também me abri mais para outras relações: retomei amizades antigas, voltei a falar com alguém que nunca imaginei que veria de novo e até conheci pessoas novas. Tenho distribuído melhor meu afeto e sendo recompensada de igual maneira.
Demorei trinta anos para entender que não devo cobrar aquilo que também não posso oferecer.