“Quando este ano começou, eu jamais imaginava que acabaria assim”, foi o que eu disse para o ortopedista após a décima segunda sessão de infiltração nos joelhos. Ele riu e respondeu “pelo menos agora você está melhor”.
Em janeiro, eu tinha uma lata de tinta e um sonho: pintar minha casa de cinza. Meu marido e eu achamos que seria uma boa ideia fazermos tudo sozinhos. Seria nossa primeira reforminha, como carinhosamente a chamamos.
Após alguns finais de semana lixando portas de madeira e pintando paredes, as dores no joelho começaram a incomodar. Um estalo aqui, outro ali, e logo eu já não conseguia mais abaixar sem me contorcer de dor.
De lá para cá passei por um longo tratamento: 2 idas ao pronto socorro, 4 ressonâncias magnéticas, 2 meses de fisioterapia, centenas incontáveis agulhas de acupuntura, 12 infiltrações de ácido hialurônico e um diagnóstico que veio para mudar toda a minha rotina.
Condromalácia é o nome chique para desgaste severo na cartilagem dos joelhos. Algo que não é comum na minha idade, mas, aparentemente fui sorteada na loteria da genética — muito obrigada, mãe.
Depois de sair do quadro inflamatório, chegou a hora de investir em fortalecimento, só que eu já sabia que essa parte seria para o resto da vida. O tal do envelhecer com saúde, sabe?
Eu já praticava yoga e encontrava muito conforto no meu tapete, mas não queria nem pensar em colocar os pés em uma academia de novo. Confesso que precisei voltar quase à força. Mas comecei a gostar de sentir meu corpo ficando mais forte a cada treino. Sem contar que, quando estou na academia, minha mente se acalma. Essa história de que fazer atividade física é bom para a saúde física e para a saúde mental é real.
Nesse meio tempo, conheci um médico excelente e super parceiro: responde todas as minhas perguntas, ri das minhas piadas autodepreciativas, me dá dicas de treino e me encoraja a seguir em frente, apesar da dor.
A gente só valoriza os movimentos simples do cotidiano quando perde a capacidade de fazê-los. Sentir o corpo se abrindo novamente e voltando a responder é bom demais!
A musculação deixou minha prática de yoga melhor também. Hoje tenho mais força e flexibilidade no tapete. Mas sofrer uma lesão é um exercício de paciência, nos ensina a comemorar cada pequena evolução e valorizar cada passo agachada.
Não vou mentir, tem dias melhores e dias piores. Sabe aquela história de que no frio as dores aumentam? Descobri que é verdade mesmo.
Realmente, no início do ano eu não imaginava que estaria fazendo musculação, ou me sentindo mais disposta, dormindo bem, nutrindo meu corpo com alimentos saudáveis (e saborosos), arrastando o marido para a academia comigo e pior, sentindo falta de treinar quando não consigo ir.
É muito doido como a gente é capaz de se adaptar. Eu já me esforcei muito nessa vida para caber em lugares que sequer me faziam bem. Hoje, me sinto cada vez mais livre para ser quem eu sou, quem eu quero ser.
Tem razão, doutor, agora estou melhor. Autocuidado é uma prática diária, que bom que a gente aprende.
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