Quando foi a última vez que você escutou um áudio sem acelerar? Se você nem se lembra mais como era escutar mensagens na velocidade 1x, te convido a me acompanhar nessa leitura.
Há alguns anos, plataformas como o Whatsapp e o YouTube liberaram a função de acelerar os áudios e vídeos. A ideia era economizar tempo. No início achei super errado, um absurdo! Mas então experimentei ouvir um áudio na velocidade 1,5x, só porque estava com muita pressa.
Aos poucos, acelerar minhas conversas se tornou um hábito. A ponto que hoje, acho muito estranho escutar um áudio na velocidade normal: parece que a pessoa do outro lado da tela está falando tão de-va-gar!
Dependendo do conteúdo, também acelero os vídeos do YouTube, mesmo sabendo que isso altera meu nível de atenção e pode comprometer minha capacidade de reter informações.
Mas é difícil evitar, começo a bater o pé no chão, num ritmo inquieto… preciso ir mais rápido.
Não vou mentir pra você, em alguns dias estou tão atarefada que se pudesse, aceleraria algumas pessoas também, em conversas que acontecem cara a cara.
Mas por que acelerar?
Uma pesquisa do Instituto Datafolha mostrou que cerca de 43% da população brasileira vive na chamada velocidade 2x, ou seja, em ritmo muito acelerado.
Em um mundo tão acelerado e com um volume imenso de informações novas chegando a cada instante, pode mesmo ser difícil acompanhar tudo o que acontece à nossa volta.
O termo infotoxicação, criado em 1996 e popularizado na última década, é a junção das palavras “informação” e “intoxicação”. Ele diz respeito ao excesso de conteúdos que recebemos diariamente e que, obviamente, não conseguimos absorver, gerando mais estresse e ansiedade em nossas vidas.
A sensação de que não temos controle, ou seja, de que não conseguimos absorver toda a informação disponível, e nem cumprir com todas as demandas, solicitações e notificações, também podem gerar efeitos negativos para nossa autoconfiança e autoestima.
Não se sentir suficiente por não dar conta de tudo é um beco sem saída, pois não há como conseguir acompanhar todas as demandas da vida moderna.
Quanto à velocidade dos áudios, apesar do objetivo ser economizar tempo e otimizar tarefas, a verdade é que sofremos mais perdas do que ganhos com essa aceleração em excesso.
Inclusive, a aceleração de um áudio muda também o tom de voz da fala. Um suspiro pode ser mal interpretado, e as nuances da fala se perdem.
Você já se pegou rindo de como a voz de uma pessoa fica ao acelerar sua fala, quando deveria estar prestando atenção no conteúdo da fala?
Quando você acelera um áudio, acaba ficando mais ansioso junto com aquela fala acelerada em seu ouvido. Parece que a necessidade de responder é imediata – o tempo todo estamos recebendo demandas e gerando novas tarefas.
As consequências de viver com pressa
Essa falsa noção de que temos controle sobre o tempo e de que podemos fazê-lo render mais traz consequências como: ansiedade, estresse, cansaço e até sintomas depressivos.
O que eu tenho sentido cada vez mais é que ao acelerar a vida, ficamos ainda mais ansiosos.
Absorver informações com tanta pressa só nos deixa mais agitados. E assim seguimos, nos acelerando e testando nossos limites um pouquinho mais a cada dia.
Nossa sociedade vive hoje em um estado de pressa normalizada. O tempo todo estamos correndo e tentando aumentar nossa produtividade. Ainda assim, parece que nunca sobra tempo para responder um amigo ou para assistir aquele filme que está todo mundo comentando.
Com isso, perdemos as pequenas sutilezas do cotidiano. Quantos atos de gentileza você deixou passar só por que estava com muita pressa?
Será que prestamos atenção na paisagem à nossa volta, no caminho para casa, nas pessoas que passam por nós, ou estamos o tempo todo presos em nossas mentes – ou telas – calculando o tempo e os compromissos?
Quantas vezes por dia você olha a hora em seu celular ou relógio e imediatamente começa a pensar sobre tudo o que ainda tem para fazer naquele dia? Parece que nossos compromissos não cabem mais em 24 horas?
Vale a pena viver em 2x?
Ao acelerarmos a vida, podemos ganhar em quantidade, mas perdemos em qualidade.
Na minha experiência, fazer mais tarefas pode parecer sinônimo de produtividade à primeira vista, mas pode ser o início do caminho para um burnout.
Acelerar uma vídeoaula para assisti-la mais rápido, ou então para assistir mais aulas em um único dia, não significa que você irá de fato aprender mais sobre o tema. Assim como conversar com seus amigos esperando o áudio terminar, tampouco indica que você escutou o que eles tinham a dizer.
Estamos vivendo ou apenas cumprindo protocolos e riscando pendências de nossas listas de tarefas?
A vida humana não se dá na mesma velocidade com que a tecnologia tem evoluído. Ao mesmo tempo, a necessidade de consumir o máximo de informação possível e o medo de ficar de fora e perder alguma coisa, é nosso – e são sentimentos muito humanos.
Sim, eu sei que vou continuar acelerando meus áudios na infinita pressa do dia a dia. Mas procuro equilibrar isso com tempo de qualidade com as pessoas à minha volta. Quando saio para caminhar, me pego parada olhando para uma paisagem no parque do bairro, porque não importa quantos e-mails não lidos tenham na minha caixa de entrada, a beleza das árvores sempre me encanta a ponto de me desconectar momentaneamente.
Eu poderia continuar sentada na frente dessa tela, escrevendo e dando exemplos. Mas enquanto termino de escrever essas palavras, minha mãe está vindo me buscar para jantarmos juntas. E também não quero te prender aí do outro lado, desejo apenas que a leitura tenha sido útil pra você.
Por hoje é só, nos vemos na próxima!
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