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Rock Show!

Eles são minha banda preferida há quase quinze anos. É isso mesmo, nosso amor resistiu ao tempo e não terminou junto com a puberdade, como meu irmão mais velho costumava dizer que aconteceria. Fui a cinco shows, todos os que eles fizeram em minha cidade, e em cada um deles conheci pessoas que compartilhavam meus sentimentos, que entendiam o valor que cada uma daquelas músicas tinha. Fiz alguns amigos assim, migramos por diferentes redes sociais ao longo dos anos e, graças à internet e aos novos álbuns lançados, nunca perdemos contato.

Sempre faltei na aula para ir aos shows, pois, por mais que a apresentação só acontecesse à noite, a experiência começava na fila, onde reencontrava os amigos e fazia alguns novos. Tentava garantir meu lugar na fila, sabendo que seria recompensada com uma boa visão do palco quando chegasse à pista. E, de qualquer forma, seria impossível ter um dia produtivo com toda aquela ansiedade explodindo dentro de mim.

Ah! Um outro detalhe que esqueci de comentar é que minhas idas a shows sempre foram patrocinadas pelos meus pais, como presentes de aniversário, natal, ou por mera insistência mesmo. Essa foi a primeira vez que me vi forçada a fazer tudo diferente. Aos 25 anos, tenho meu emprego, a vida ativa de quem acabou de se formar e está trabalhando muito, ainda querendo acreditar nas promessas que ouviu na graduação e já ciente de que nada acontecerá sem muito esforço e alguns sacrifícios. Pois é, dessa vez precisei bancar meu ingresso, em três dolorosas parcelas, que implicaram em uma severa contenção de despesas nos meses seguintes.

Não pude faltar no trabalho para passar o dia todo na fila, não consegui folga, por mais que tenha pedido com meses de antecedência, mas consegui negociar com uma colega para trocarmos de turno, então estaria liberada no meio da tarde. Combinei com o pessoal de nos encontrarmos na fila, assim quem chegasse primeiro já faria mais alguns amigos e nos garantiria um bom lugar.

Quando o grande dia chegou, não consegui dormir, tive um desempenho ruim no trabalho, pois parte de mim já estava no show. Como eu podia me concentrar sabendo que eles já estavam em terras brasileiras?

Quando o relógio anunciou o tão esperado momento, corri para meu armário e peguei a mochila já pronta. Passei no banheiro e troquei o uniforme quente por uma bermudinha leve e uma camiseta preta com o nome da banda estampado. Preferi me maquiar e colocar a bandana no caminho, dentro do ônibus mesmo, afinal, eu ainda teria uma reputação a zelar no trabalho no dia seguinte

Mandei mensagem para meus amigos avisando que estava a caminho e parei apenas em uma lanchonete, onde comprei alguns lanches e uma garrafa grande de refrigerante gelado. O estômago precisa estar bem forrado para aguentar uma noite daquelas.

Atipicamente, esperei apenas uma hora até a abertura dos portões e, graças à Dani, conseguimos um bom lugar na pista, nós duas ficamos numa posição estratégica, bem em frente ao lado direito do palco, onde Seb, o guitarrista, costumava ficar. Combinamos com o restante do pessoal que nos encontraríamos no final do show, em frente aos banheiros, e assim cada um foi procurar um lugar que lhe desse melhor visão do palco.

Sentamos na pista e ficamos aguardando, Dani me contava sobre sua vontade de pedir demissão, motivo inclusive que fez com que ela não se importasse em faltar para garantir nossos lugares na fila. Eu entendia como ela se sentia, às vezes eu também sentia aquela vontade de jogar tudo para o alto. Tudo mesmo. O desabafo rolava solto até o momento em que as luzes da casa se apagaram.

Acho que mesmo que eu me esforçasse, não seria capaz de descrever com exatidão como foram as duas horas seguintes. Shows sempre são uma experiência única, mas me despertam as mesmas sensações: o arrepio em cada parte do corpo quando as luzes se apagam e o silêncio impera por alguns segundos, antes que os instrumentos comecem a tocar; a voz do vocalista, anunciando a entrada da banda; a expectativa pela próxima música – será que eles vão tocar aquela?; a surpresa quando tocam algo que não costuma estar no repertório; ou o sorriso que surge no rosto quando eles se arriscam a falar em nossa língua. Mas não há nada comparável à sensação de união de quando todo o público, milhares de estranhos, se unem em uma só voz, cantando uma música junto com eles. Não importa se o ritmo ou a pronúncia das palavras está correta, tudo o que importa é saber que você divide aquelas notas com aquelas pessoas e que aquele momento nunca se repetirá.

Quando a noite terminou, demorei para me situar novamente, foi difícil coordenar os pés que tentavam me arrastar para fora do estádio. Não sei muito bem como cheguei ao táxi ou sobre o que conversei com o motorista até chegarmos em minha casa. Sem nem tomar um banho, despenquei em minha cama e adormeci assim que a cabeça encostou no travesseiro, de tanto cansaço. No dia seguinte, ainda parecia anestesiada e sabia que seria muito difícil voltar ao normal, pois eu já não era a mesma, era uma das vozes do coro.

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