Em 2012, foi divulgado um estudo dizendo que o mundo acabaria no dia vinte e um de dezembro. Algo sobre alinhamentos astronômicos, fórmulas matemáticas e a civilização Maia. Um grande colapso!
Eu não acreditei, afinal não era a primeira previsão de fim do mundo e, com certeza, não seria a última a ser feita. E também, se o mundo acabasse mesmo, eu não estaria aqui para precisar admitir meu engano.
Os primeiros meses do ano se passaram sem grandes mudanças, mas logo começaram a surgir teorias e algumas pessoas começaram a tentar projetar como seria o grande final. A princípio, achei tudo uma grande loucura e apenas ria das histórias que escutava. Mas, mundo acabando ou não, o ano foi bem difícil para mim, especialmente quando perdi o emprego. E até me peguei desejando que tudo isso realmente tivesse um fim.
Lembro de conversar sobre isso com meus amigos, e foi assim que Rodrigo sugeriu que saíssemos no último dia, para comemorarmos o tão anunciado fim. Afinal, estávamos todos ferrados e não nos custava nada uma desculpa para festejar. Nosso placar final envolvia desemprego, dívidas, relacionamentos terminados e uma mudança de cidade.
Assim, nos encontramos na rua mais badalada da cidade algumas horas antes do fim, do dia e do mundo. Passei o dia todo criando expectativas e fantasias em minha mente sobre como seria me declarar para meu melhor amigo, pois se essa fosse mesmo minha última chance, parecia bobeira desperdiçá-la com pudores e, caso não fosse, eu poderia colocar a culpa no excesso de bebida.
Nós não fomos os únicos a ter essa ideia, acho que as casas noturnas e bares nunca faturaram tanto quanto naquela noite. Havia muita gente nas ruas, alguns apenas curtindo com seus amigos, outros com olhares nervosos, parecendo ansiosos com o que estivesse por vir e alguns anunciando profecias pelas ruas. Bom, já que o caos estava instalado, resolvi tentar a sorte com Rodrigo.
Fomos para um bar, o som estava muito alto e mal conseguíamos conversar. Mas ficamos lá, aproveitando a música e pedindo rodadas e mais rodadas de álcool. Olhei para ele, do outro lado da mesa e respirei fundo antes de estender a mão para ele, chamando-o para ir até a pista de dança. Ele me olhou confuso e apontou para o ouvido, sinalizando que não me escutara. Me aproximei dele, ficando na ponta dos pés para alcançar seu pescoço e disse: “vem dançar! ”. Ele riu e negou com um aceno de cabeça e eu, revirei os olhos, o ignorando e seguindo sozinha para a pista.
Quando me virei, ele estava bem atrás de mim. “Mudou de ideia? ”, perguntei. “Mal não vai fazer, você não vai poder lembrar de como eu sou ruim nisso”, respondeu. Ficamos dançando, desajeitados de frente um para o outro e notei que nenhum de nossos amigos nos seguiu. Ótimo, acho que entenderam o recado.
Aos poucos fomos nos soltando e eu me atrevi a pegar sua mão e apoiar em minha cintura, para que ele acompanhasse meus movimentos. Ele sorriu e permaneceu ali, sem se afastar. Então, quando percebi, eu já estava bem próxima da parede, tendo apenas aquele belo exemplar de um metro e noventa à minha frente. Fechei os olhos e o puxei ainda mais, ele se abaixou, gentilmente, alcançando meus lábios. Não sei quanto tempo aquele beijo durou e, quando terminou, abri lentamente os olhos, para espiá-lo.
Sem dizer nenhuma palavra, passamos o resto da noite juntos, não sei quando o relógio marcou meia-noite, mas logo o dia vinte e dois amanheceu. Fomos embora sozinhos, já que não conseguimos encontrar mais nenhum de nossos amigos.
Ele pegou minha mão e entrelaçou à dele, enquanto caminhávamos. Então diminui o passo até parar e me sentei em uma calçada. Ele me acompanhou e ficamos assistindo o nascer do dia. “Quem diria que o mundo precisava ameaçar seu fim para eu ter coragem de te beijar”, ele disse. “O quê? Eu que passei a noite toda tomando coragem para chegar perto de você”, falei rindo.
Fomos para casa e só voltamos a nos ver na semana seguinte, após as festividades do natal. Mas, no meio do caminho trocamos muitas mensagens e foi ali, em pleno final, que nossa história começou.