Era um jantar entre amigos. Simone chegou com meia hora de antecedência e levava os olhos à porta toda vez que alguém entrava no restaurante. Se levantou da cadeira, em um pulo, assim que o viu entrando, no horário marcado. Roberto veio em sua direção, sorrindo, e se cumprimentaram com um abraço.
Ele perguntou sobre a terceira amiga, que deveria vir encontrá-los, e Simone se limitou a responder que ela acabara de lhe enviar uma mensagem dizendo que teve um imprevisto no trabalho. “Que pena, é tão difícil voltar a reunir o trio, principalmente sem esposa, maridos e filhos no meio”, ele disse e se sentou na cadeira vaga a sua frente.
Simone voltou a se sentar, de frente para ele, e ficou encarando-o, abriu a boca duas vezes, mas as palavras lhe faltaram, até que o garçom os interrompeu para anotar seus pedidos, fazendo com que se entretivessem em seus cardápios por alguns minutos.
Depois de escolherem as bebidas e pedirem uma salada como entrada, voltaram a se olhar, e ele, já melhor acomodado na cadeira, começou a falar, perguntando sobre seu trabalho e sobre como estavam as crianças. Ela respondeu, secamente, sem prolongar nenhum assunto, nem mesmo quando Roberto começou a relembrar histórias da época em que estudavam juntos. Apenas quando o garçom depositou os pratos na mesa e se afastou foi que ela voltou a falar. “Preciso te contar uma coisa”, disse. Ele sorriu e gesticulou com as mãos para que ela continuasse. “Mas eu não consigo… Bem, vou mostrar de uma vez. Veja só”, disse enquanto pegava seu celular na bolsa. Seu rosto ficou momentaneamente iluminado pela luz forte da tela, até que ela entregou o celular em sua mão e fechou os olhos, sem observar sua reação.
Ele se endireitou na cadeira e puxou o celular para si, depois o afastou, olhando a tela de outro ângulo. Jogou o celular no meio da mesa, quase derrubando os copos que ali estavam e lhe exigindo explicações. “Não tem o que explicar, é isso. Vi os dois juntos ontem, de novo”, respondeu. Ele se recusou a acreditar que a esposa ainda estivesse se encontrando com o amante, mesmo depois de conversarem a respeito e ele lhe perdoar. “Sei que você a perdoou, mas ela é uma vaca, uma vaca incurável. Não te merece, Rô”. Ele bufou, e abaixou a cabeça, passando a mão pelos cabelos. Quando a encarou novamente, pegou seu celular e se levantou, saindo do restaurante sem olhar para trás.
Ela não pareceu se abalar com a reação dele e voltou a comer seu estrogonofe, porém agora com um sorriso no rosto.