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Saudades do que não vivi

Em frente ao prédio em que trabalho funcionava uma cafeteria, daquelas bem caseiras mesmo, com jardim na entrada e cheirinho de bolo recém-saído do forno. Sempre quis ir até lá, mas nunca fui. Eu adiava: chego muito em cima da hora, na hora do almoço não vou tomar café, e quando eu saio ou eles já fecharam ou estou tão cansada que só quero ir para casa.

Na segunda-feira cheguei no trabalho e me deparei com o prédio vazio, as portas fechadas e metade do jardim já removido. Como assim? Finalmente atravessei a rua e fui até lá, perguntei para um senhor que estava na porta o que havia acontecido. Ele me contou que o café fechou e o prédio foi alugado por uma brigaderia, e disse que eu podia ficar calma, pois agora teremos todos os tipos de chocolate, café e um estilo vintage (para combinar com o padrão do bairro, sabe como é).

Passei a semana toda olhando para o outro lado da rua, sentindo falta de ver o jardinzinho de entrada. Nem atravessei só para não sentir falta do cheirinho do bolo que eu nunca provei. Meu chefe perguntou porque eu estava triste e eu respondi “é que fecharam o café da Dona Helena”, ele me olhou confuso e disse que não sabia que eu gostava de ir lá, mas que eu podia esperar por coisa melhor agora que estão reformado.

Não, eu não costumava ir lá. Nunca fui, aliás. Eu adiei, dia após dia. Nunca me proporcionei este pequeno prazer: um intervalo de cinco minutos do outro lado da rua. E hoje eu me peguei sentindo saudades. Saudades do que não fiz, do que não vivi. Saudades de saber que o conforto estava logo ali na minha frente, tão perto e tão longe.

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