Me Chama

Ela dizia que eu podia chamá-la sempre que precisasse, e eu chamava. Às vezes só para ouvir o som de sua voz, que era como uma bela melodia invadindo meus ouvidos e me paralisando, em um estado hipnótico. Ouvi-la dizendo meu nome era como estar em casa novamente, de volta àquelas tardes de domingo no quintal ensolarado, quando nos sentávamos no chão frio e ela apoiava a cabeça em meu colo e compartilhava alguma de suas ideias malucas. Eu só conseguia rir de sua ironia inconveniente, mas a verdade é que não conseguia acompanhar seu fluxo de pensamentos.

Mesmo depois de nos separarmos, era para ela que eu ligava para contar uma novidade ou até mesmo para pedir ajuda. E, mesmo sem ter obrigação alguma, ela sempre aparecia para dar uma força.

Sinceramente, não sei como seria a vida sem sua presença, e era nisso que eu estava pensando enquanto assistia à dança silenciosa das chamas que projetavam sua sombra na parede. Senti vontade de apagar as velas, bastava um sopro para que a escuridão invadisse o salão abafado.

Encarava seu corpo inerte, pensando que eu não poderia mais chamá-la, e que ela nunca mais seria a mesma e, graças a meu egoísmo – como ela teria dito, eu também não. E bem que eu precisava dela agora.

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