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Eu não tenho tempo

Eu não tenho tempo para fazer nada! Os dias são tão corridos e eu já faço tanta coisa: faculdade, trabalho e academia, fora o trabalho voluntário aos sábados, as publicações que eu me comprometi a fazer para o blog de um amigo e, é claro, a vida social.

Tenho que arrumar tempo para sair com diferentes grupos de amigos, ir a festas, baladas, aniversários e formaturas, além dos rolês de última hora que vão surgindo, e os shows. Adoro música. Aliás, tem um evento gratuito este fim de semana, preciso conferir a programação, não posso perder.

E quando sobra um tempinho, eu durmo. Não costumo me dar ao luxo de descansar. Na semana passada eu peguei uma gripe forte, ou melhor, ela me pegou. Fiquei muito mal. Foi uma crise! Como eu podia ficar em casa repousando ou mesmo parar um dia para ir ao médico? Só de imaginar que eu teria que cancelar, adiar e remarcar compromissos, ui, que arrepio! Fiz tudo me arrastando mesmo, mas dei conta. Só parei um pouco no final de semana e, ainda assim, me senti um tanto quanto culpada por isto. Como ficar doente atrapalha a vida da gente!

Eu fico me convencendo de que eu sou jovem, então tenho que aproveitar a vida e dar conta de fazer um monte de coisas, pois se eu não fizer agora, quando farei, não é mesmo? Mas confesso que tem dias que eu queria poder ficar em casa, de pijama, enrolada nas cobertas, fazendo uma maratona de séries e comendo pipoca. Sem me preocupar com trabalhos da faculdade, com os e-mails ainda não respondidos, sem precisar ficar checando as mensagens dos amigos e sem culpa por não estar suando na academia.

Queria que meu dia tivesse 30 horas, assim talvez sobrasse tempo para fazer isto, para relaxar. Opa, me entreguei, o “talvez” já revela que eu ia é procurar coisas mais uteis para fazer, tipo aquele curso de francês que eu estava pesquisando outro dia. Mas quem foi que disse que descansar não é útil também? É isto, eu não me permito e não tenho tempo para fazer o nada, vivo me ocupando para não ver o tempo passar.

Mas também se eu parar, o que eu vou fazer? Ficar olhando para o teto e pensando na vida? Aí vou perceber que o trabalho me consome, que a faculdade não é bem o que eu esperava, que eu ainda sinto falta do meu ex. E me conhecendo, uma vez que eu perceber, me obrigarei a lidar com tudo isso, então é mais fácil ir trabalhar mesmo gripada, em uma semana já estou nova de novo e a vida segue.

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Cabelos Coloridos

Sempre fui aquela adolescente estranha. Hoje, olho para trás e penso “mas qual adolescente não é estranho, não é mesmo?”. Mas na época não tinha tal clareza, e sentia que o problema era exclusivamente meu.
Pensava ser a única insatisfeita com o meu corpo, descontente com minhas espinhas e com a pele oleosa, me sentia meio de fora do que acontecia no mundo. Via os colegas de sala bem enturmados, e todos pareciam tão bem. Era como se eu fosse a única que não tinha muitos amigos, que não sabia me aproximar das pessoas, que ainda não tinha beijado ninguém (apesar de ter uma quedinha secreta por um garoto).

Enfrentava algumas batalhas pessoais em casa: meus pais se divorciando e mantendo uma sociedade. Se divorciaram por brigarem tanto, pois bem, as brigas triplicaram. E eu me sentia sufocada por não ter com quem conversar a respeito. Vestia meu sorriso (de aparelho) e ia para a escola. Sempre encontrei companhia nos livros, enquanto lia, sentia que deixava meu mundo para trás e, durante algumas horas, pertencia a outra realidade, outra história, e isto, em geral, me confortava, mas não durava muito e eu precisava voltar à minha própria companhia.

Uma das coisas que mais me incomodava era o meu cabelo. Tive inúmeras crises por ele e com ele. Era liso, mas aos doze anos começou a cachear e eu nunca aceitei os meus cachos. Me achava muito diferente das outras meninas, já que, ao meu ver, todas pareciam ter cabelos lisos e sedosos. Eu não sabia cuidar dele, então ficava armado e, bem, era horrível. Resolvi alisar. E eu usava uma franjinha – porque minha mãe adorava franja – ou então deixava ela crescer e dividia tudo ao meio, ficava aquela coisa escorrida e grudada na cara, mas jogar o cabelo para o lado e chamar atenção não eram possibilidades para mim. Não posso dizer que me arrependo, gosto dele assim, mas é triste pensar que depois de tantos anos eu já nem sei mais como é o meu cabelo natural.

Tentei de tudo: fiz mechas, colori, fui do vermelho ao roxo. Parece que eu tentava me expressar por meio do cabelo. E tinha o maior orgulho dos meus cabelos coloridos. Até que entrei na faculdade e parei de ter tempo para pintá-los a cada quinze dias. Deixei a franja crescer, pois ela também dava trabalho, e aos poucos fui arriscando uma jogadinha para o lado, e mantendo sempre um grampinho por perto para prender e impedir que o cabelo caísse todo no meu rosto e grudasse no batom.

Mas junto com todo este colorido me veio a maturidade e eu nem percebi. Quando me dei conta eu já tinha beijado alguém (não, não foi aquele menino), já tinha feito outros amigos, e tinha até decidido o que estudar. E aos poucos notei que é normal se sentir desajustado na adolescência e até mesmo não se reconhecer, afinal é uma fase marcada pelas transições. E não, as outras meninas não tinhas cabelos lisos e sedosos, todos tinham espinhas e dava para ver meu reflexo em algumas testas oleosas, mas como eu não me reconhecia, não notei.

Ainda tenho algumas espinhas e tem dias que não consigo arrumar meu cabelo, mas isto já não me incomoda tanto assim. Apenas o prendo para que não caia no rosto enquanto penso em minhas crises atuais. Acho que o mais importante foi me dar conta de que toda crise, por pior que possa parecer, passa. Às vezes nos dá um pouco de tranquilidade, outras vezes já é logo substituída. E são elas que me movimentam.

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Balada

Na sexta-feira já começa o esquenta. Depois da aula vou para um barzinho com o pessoal. Depois durmo e descanso bem para o sábado. No sábado vou para a balada.

Todo sábado tem balada. A turma é grande e é difícil reunir todo mundo, pois alguém sempre tem um compromisso com a família ou uma prova pra estudar. Mas vamos nos revezando e ninguém nunca fica na mão. Geralmente vou pra casa da Bia e nos arrumamos juntas por lá, depois o pai dela nos deixa na porta do lugar (ele acha mais seguro assim). Esperamos o resto do pessoal chegar e enquanto isso começamos a conversar com alguém na fila.

Eu adoro ir pra balada, gosto muito de dançar com as minhas amigas. O problema é que é uma noite carregada de ansiedade e expectativas. Por mais que eu negue, sempre tem aquele friozinho na barriga e eu me pergunto “será que é hoje que eu vou conhecer alguém especial?”. E especial para quê? Para sair comigo e assim eu não precisarei mais ir para a balada? É de se pensar… Eu tenho pensado bastante ultimamente.

Finalmente o pessoal chega, a porta se abre e a noite começa. Acho engraçado que apesar de gostar de estar na companhia dos meus amigos, lá dentro é impossível de conversar, só conseguimos nos escutar se gritarmos. Enfim, vamos até o banheiro, depois até o bar e ficamos andando pela casa procurando um lugar na pista de dança e, depois de mudar algumas vezes, achamos um lugar para ficar. Começamos a dançar e rir, afinal já estamos ficando um pouco altos. Alguém se aproxima e começa a puxar papo, tentar dançar conosco. E vamos deixando rolar. Aos poucos cada um de nós vai “se ajeitando”.

Eu conheço o Carlos (o André, o Pedro, o Rafael), nós começamos a dançar, ele me puxa para perto e pergunta meu nome. “Dani”, eu respondo. Ele se apresenta e continuamos dançando em silêncio. Nos beijamos, rola aquele clima e depois procuramos um lugar mais calmo para podermos conversar. Fico sabendo sua idade, o que ele estuda, com o que trabalha, que veio do interior de São Paulo, que é guitarrista de uma banda de garagem e que tem dois cachorros. Ficamos durante a noite toda, até que chega a hora de ir embora.

No dia seguinte, nos adicionamos no facebook, mandamos uma mensagem e, ou ele some ou eu me canso e me afasto, ou, com sorte, marcamos um segundo encontro. Com o Carlos teve um segundo encontro. Combinamos de ir num barzinho, alí perto da Alameda Santos. Ele me pegou no metrô e fomos conversando até lá, dei sorte, ele parece ser uma pessoa legal. Passamos a noite conversando e descobrindo mais coisas um sobre o outro.

Volto pra casa com aquele friozinho na barriga, me perguntando quais são as intenções dele e se “temos futuro”. Bom, já me sinto na liberdade de dar aquela olhadinha básica no facebook dele e ver fotos, amigos, postagens. É, até aqui ele está aprovado, a fase seguinte é falar sobre ele com as amigas e pedir conselhos.

Mensagem vai, mensagem vem e passamos a semana toda conversando. Na quinta-feira ele me chama para sair de novo e no final de semana vamos ao cinema e assistimos um filme que eu nem sequer consigo lembrar o nome. Depois jantamos e ele me acompanha até o metrô.

Parecia estar tudo bem nas primeiras três semanas, até que começou o já tão conhecido distanciamento. Ele chega devagar, começa com um intervalo maior entre as mensagens, depois o assunto vai terminando, eu percebo que estou me esforçando para manter uma conversa que já não flui naturalmente. Será que vai acontecer de novo?

Aconteceu. Chamei ele para sair no final de semana e ele disse que não podia, tinha que ir no aniversário de uma tia, aí no sábado foi marcado em uma foto na mesma balada em que nos conhecemos. Conversamos a respeito e ouvi o clichê já decorado (por nós dois) de que ele gostou muito de mim e que sou uma pessoa incrível e que mereço arrumar alguém tão legal quanto eu, mas ele não está em um bom momento e não quer se envolver agora. Eu já sabia, Carlos. Já sabia.

Choro, choro mesmo sabendo que não devia chorar. Ligo pra Cris e pergunto se ela pode vir aqui em casa, e ela vem munida de muito brigadeiro. Passamos a tarde toda conversando sobre meninos, futuro e as tão terríveis expectativas. E aí me dou conta de que preciso começar tudo de novo. Agora vai ser diferente, pois o pé na bunda tem que ter servido para alguma coisa, aprendi minha lição.

Mais uma semana vem e vai. Na sexta-feira já começa o esquenta. Depois da aula vou para um barzinho com o pessoal. Depois durmo e descanso bem para o sábado. No sábado vou para a balada.

Todo sábado tem balada.

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Parabéns

Parabéns pra você, nesta data querida. Muitas felicidades, muitos anos de vida!

Aniversário é uma coisa engraçada. É aquele dia em que nos permitimos sair um pouco da rotina para fazer algo diferente. É dia de pensarmos mais em nós mesmos, fazer aquela recapitulação dos últimos acontecimentos da vida e repensar sobre os caminhos tomados. Na infância, é uma dia para comer bolo e até ganhar presente, depois, conforme os anos passam a gente só pensa em chegar até os tão esperados dezoito anos. Demora tanto a chegar, mas uma hora acontece. Aí percebemos que não muda é nada: “agora posso beber, dirigir e ser preso” (alguns fazem os três, nesta ordem).

Parabéns pra você, nesta data querida. Muitas felicidades, muitos anos de vida!

Depois dos dezoito parece que o tempo voa, porque então já não aguardamos os aniversários com tanta ansiedade. Pelo contrário, parece que vamos cada vez mais fugindo deles, por medo de envelhecer, afinal se nossa sociedade valoriza tanto a juventude e tenta esconder sua velhice a todo custo, é porque não deve ser tão bom assim ficar velho. Com o passar do tempo, a gente se acostuma a fazer aniversário e ele vira uma desculpa para encontrar os amigos, marcar um rolê e rever algumas pessoas. É aquele dia de receber ligações e mensagens, a bateria do celular acaba num minuto. É cansativo, porém, se ninguém lembrar dá uma sensação tão ruim, de esquecimento. Engraçado, né? Fugimos da data, mas quando ela chega queremos mais e ser lembrados. Amanhã fechamos os olhos e voltamos a fugir.

E quando somos adultos a coisa vai ficando mais difícil, se o aniversário cai durante a semana, paciência: tem que trabalhar. Dinheiro pra sair ou dar uma festa quase nunca tem, e os presentes vão ficando mais escassos. A coisa perde um pouco a graça, só ganhamos números na conta mesmo.

Eu reclamo mas gosto muito de comemorar aniversário, aliás é o que mais faço aqui no trabalho…Parabéns pra você, nesta data querida. Muitas felicidades, muitos anos de vida! Os clientes adoram vir aqui jantar e ganhar sobremesa grátis e um “Parabéns” bem alto, pro salão inteiro ficar sabendo que apesar de estarem aumentando seus números, são muito queridos.

Normalmente eu nem penso muito a respeito, mas ai quando chega o dia do meu aniversário, eu acho engraçado. Canto Parabéns para toda essa gente que nem sabe que eu nasci no mesmo dia que elas. Fico tentando adivinhar suas idades e como será que é a vida de cada uma delas. Será que também passaram o dia trabalhando? Será que estão felizes ou preferem nem contar quantos anos estão comemorando?

Ai acaba o expediente, eu ajudo a fechar tudo e vou pra casa e encontro o bolinho e as velas acesas na cozinha, porque não importa a hora, minha mãe não abre mão do bolinho e do “Parabéns” pro caçula dela. Mal sabe ela que é a nona vez que eu escuto essa música só hoje.