Publicado em Crônicas, Textos

Escrever, eu?

Hoje um amigo me perguntou se eu gostaria de escrever um livro. Gostaria? Sim, claro que sim. Imagina que legal colocar minhas ideias no papel, transmiti-las para outras pessoas.  Mas não sei se alguém se interessaria pelo que eu tenho a dizer, se é que tenho algo a dizer. E não deve ser nada fácil se expor dessa forma… Acredito que quando escrevemos colocamos um pouco de nós mesmos na história, imagina se alguém percebe! O que minha mãe vai pensar? Será que vou ofender alguém da minha família? Vou irritar um amigo? Ou talvez revelar aquele segredo sem querer? É melhor nem escrever. E também, quem leria? Afinal, o tipo de história que dá certo hoje é outro, as “sagas” é que estão na moda, vendem e viram filme rapidinho.

Só que essa história de escrever um livro ficou na minha cabeça o dia todo. Eu percebi que estava tão preocupada com a opinião dos outros que deixei de ver a minha própria. Eu realmente quero escrever? Sobre qual tema? De tanto me prender, não me permiti pensar, não desenvolvi a história. Me limitei por medo de não conseguir produzir uma grande obra. Mas como posso saber se uma obra será grande antes mesmo de escrevê-la? E mais, será que é melhor produzir algo grande e incomparável ou então ter a flexibilidade de escolher diferentes temas para tratar e poder caminhar entre eles?

E aí eu entendi como perdi tempo me limitando sob uma máscara de julgamento externo, temendo a opinião e desejando a aprovação alheia, quando o mais doloroso seria não gostar de minhas próprias ideias. Decidi tentar, fazer as pazes comigo e estabelecer um diálogo. Agora todas as ideias têm uma chance de serem ouvidas. Se serão aproveitadas ou não é outra história.

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Lá se vai mais um

Seis e meia, o ônibus está mais cheio do que o normal hoje. Por que será? Ah, é sexta, todo mundo quer chegar em casa mais cedo… Hum, é sexta. O que eu vou fazer ho… AI, MEU DEUS, por que ele está me olhando?! O que será que tem de errado comigo? Será que o zíper da minha calça está aberto? Será que o meu sutiã tá aparecendo? Sabia que não devia ter vestido essa blusa. E agora, será que eu olho? Mas aí ele vai perceber que eu percebi que ele percebeu que tem algo errado comigo. Ou será que é o meu cabelo? Ele está mesmo meio esquisito essa semana, acho que tá na hora de cortar, aliás, tá na hora de fazer a sobrancelha, as unhas… Aí, será que ele viu meu esmalte saindo? Deve estar pensando que eu sou ansiosa, roo as unhas e como o esmalte, que nojo. É, ele deve estar com nojo de mim. Será que eu estou suja? Nossa, será que eu estou fedendo? Tomei banho de manhã, já devo estar cheirando mal. Não sei se sou eu, mas definitivamente alguém está cheirando mal aqui. Será que sou eu? Deve estar forte mesmo, para ele ter notado dali. Acho que foi por isso que aquela moça que estava aqui foi lá pra perto da porta. Não, calma. Acho que ela já ia descer mesmo. É, talvez não tenha nada de errado comigo, vai que ele nem tá me olhando, pode ser alguém atrás de mim, ou algo lá fora, na rua. Ou então ele gostou de mim e está me olhando. Aí, será que ele ainda está olhando? O que eu faço, olho de volta? Não, vai dar na cara que eu saquei. Ok, respira fundo e aja naturalmente. Como se age naturalmente? O que eu costumo fazer quando não estou prestando atenção? Ele é bonitinho, eu posso olhar de volta. Vai que rola aquela troca de olhares e nós descemos no mesmo ponto, aí um diz algo e o outro ri. Até que nós combinamos. Será que daria certo? Que tipo de música será que ele gosta? Isto é importante, assim dá pra ter uma ideia dos lugares que ele gosta de ir. O que será que faríamos juntos? Não, segura essa ansiedade. Tá bom, vou olhar de volta, é fácil: lá vai! Opa, cadê ele? Ele… já desceu?

E lá se vai mais uma chance.